natalia

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Rapidinhas da Psicótica


Estava no cinema com o cara novo. Não costumo fazer nada daquelas coisas de pegar na mão, ficar olhandinho, mi-mi-mi. Se o o filme for bom, então, nem pensar. Por isso, o rapaz só teve chance de tomar alguma iniciativa nos créditos finais, pouco antes das luzes se acenderem. Foi quando ele se aproximou, bem lentamente, como se fosse me beijar.
"Preciso dizer...", sussurrei, interrompendo o processo.
"O quê?", ele perguntou baixinho e sorriu, esperando alguma revelação lisonjeira.
"Tem muita pipoca no meu decote. Tipo muita mesmo", concluí, impassível.
"Ok", ele disse, sem saber ao certo se aquela era a melhor resposta.
"Eu vou levantar agora. Vamos tentar não fazer disso um momento estranho", pedi, enquanto ficava em pé e uma enxurrada de pipoca caía debaixo do meu vestido.
Levou alguns segundos até que tudo acabasse no chão. No final ainda sobraram umas três ou quatro pipoquinhas que ficaram presas no sutiã. E eu comi, claro.
"Pode me beijar agora, se quiser."

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Portal para Psicose


Queridos leitores (oi, mãe), desculpem-me pelo sumiço.

Mas volto com novidades!

Em breve o Adorável Psicose vai se associar ao Portal GNT, o que significa que... bom, significa que o canal está cheio de psicóticas como eu, você e a minha mãe (desculpa, mãe).

Estive trabalhando no layout novo do blog e participei de uma incrível sessão de fotos com a estilista, maquiadora, hairdresser e pin-up ambulante Débora Gotlib, as fotógrafas Fernanda Oliveira e Biju Caldeira e a minha figurinista preferida, Mel Akerman.

Tudo isso pra deixar este blog novinho em folha para a nova etapa que vem por aí. Quando adentrarmos o Portal, os textos vão continuar os mesmos, mas o layout, quanta diferença...

Aguardem!


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Da série: psicose nossa de cada dia


Estava numa correria louca para viajar no feriado. "Não leva a mala grande", aconselhou minha amiga. "Compra uma menorzinha, é mais prática."
Foi o que eu fiz. Comprei uma linda, rosa de bolinhas.
O problema é na hora de arrumar. Porque apesar de deixar sempre pra última hora, como se a tarefa fosse simples, eu não tenho o menor talento para decidir o que levar. Essa coisa de discernimento não é comigo. Quando se trata de bagagem - e não importa se o destino é Paris ou Nova Iguaçu - eu sou completamente inábil. Levo todos os meus cremes: hidratante, esfoliante, anti-rugas, leave-in pro cabelo, creme para as mãos, para os pés, para o rosto - mas sou perfeitamente capaz de esquecer as calcinhas em casa.
De qualquer forma, lá estava eu, terminando a missão mala, correndo contra o tempo, quando impensável aconteceu. Na hora de fechar, num movimento sincronizado dos infernos, o zíper quebrou no mesmo instante em que a alça arrebentou, causando um estado de petrificação nesta que vos fala.
Depois de encarar por alguns segundos aquela cena, não pude conter um grito de ódio e indignação. Chutei aquela merda rosa de bolinhas algumas vezes e, cansada do esforço físico, me contentei em continuar apenas xingando. Por alguma razão, quando estamos com muita, muita raiva, só conseguimos nos lembrar de um número limitado de palavrões. No meu caso, o repertório se resumia a puta-que-pariu-caralho-se-foder-porra, que eu repeti algumas centenas de vezes, antes de começar a etapa do choro.
"É só uma mala", disse minha amiga, bastante assustada.
"Não, não é só uma mala", rebati, chorando. "Era a minha mala, com as minhas coisas."
"Tudo bem, a gente vai lá trocar por outra."
"Eu não quero outra! Eu quero essa!"
"Mas tá toda arrebentada."
"Puta que pariu, mas eu já arrumei tudo, caralho. Deu mó trabalho pra organizar! Se foder, agora eu vou ter que tirar tudo e começar tudo de novo, porra? Quando isso vai acabar? Eu não aguento mais!"
"Isso não é por causa da mala, né?", ela constatou, finalmente.
"Como assim? Claro que é por causa da mala! O vendedor disse que ela era resistente e eu acreditei. Eu sabia que devia ter testado na hora, mas nãão. A idiota aqui confiou no babaca."
"Vamos voltar lá e falar com ele."
"Ele não vai estar lá."
"Como é que você sabe?"
"Porque eu sei. Ele deve estar namorando agora. É o que todos eles fazem depois que eu vou embora. Eles começam a namorar, é uma profecia."
Minha amiga revirou os olhos, e sentou-se ao meu lado, dando tapinhas no meu ombro.
"Se foder, porra", ela disse, em solidariedade.
Depois, no caminho até a loja, passamos por uns camelôs e vimos a mesma mala pela metade do preço. Não era uma imitação. Era exatamente a mesma.
"Tá vendo", disse minha amiga. "Era por isso aí que você tava chorando."
Então me recompus. Foi só ali que percebi que a mala não tinha arrebentado por minha culpa. Ou por culpa do meu azar, do Universo, do Murphy. Ou do vulcão de Eyjafjallajoekull. Nada disso. A mala arrebentou porque era vagabunda e não valia metade do meu investimento.

Deve ser mais ou menos assim com a vida afetiva, não? [2]

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Rapidinhas da Psicótica


Há algum tempo eu queimei feio o céu da boca. Mal conseguia comer depois daquilo, doía muito. E continuou doendo por dias e dias.
Até que passou.
Não sei quando exatamente deixou de doer, perdi esse momento. Mas hoje eu me dei conta de que consigo comer o que eu quiser, sem qualquer resquício do que sentia antes.

Deve ser mais ou menos assim com a vida afetiva, não?

A ética do flerte


Eu estava esperando para atravessar rua - por alguma razão, várias coisas me acontecem enquanto estou esperando para atravessar a rua - quando um cara muito gato parou do meu lado.
Virei discretamente o rosto em sua direção e percebi que ele também estava me olhando. Sorri, constrangida, e voltei a olhar para frente.
Foi quando, do meu outro lado, parou um cara ainda mais gato. Fiquei confusa com tanta informação e, sem saber para que lado olhar, permaneci encarando fixamente o sinal dos pedestres.
"Como assim?", perguntou Juliana, indignada. "Olhasse pros dois!"
"Ah, não. Aí seria ridículo", repliquei, em minha defesa.
"Ridículo por quê? Os homens fazem isso o tempo todo", ela rebateu.
"Eu sei! E a gente acha ridículo!"
"É ridículo quando eles fazem com a gente. Quando a gente faz com os outros é técnica", argumentou.
"Eu entendo o que você tá falando, só não acho ético."
"Ético?", repetiu, rindo. "Como assim, você tem uma ética do flerte?"
"Tenho", respondi, rindo também. "Existe uma ética do flerte, tá bom? Você não pode olhar pra alguém, deixar ele te olhar de volta, admitir o fato de que os dois estão se olhando e depois mudar de ideia só porque chegou alguém melhor."
"Por que não?"
"Porque é sacanagem! Existe um acordo que se firma durante a troca de olhares. É um pacto velado que diz 'eu estou de olho em você e vice-versa'. Depois que você firma esse pacto, já era. Pensasse melhor antes."
"Mas existem brechas. Você pode burlar a regra."
"Poder pode. O jeito clássico é esperar o cara ir ao banheiro e aproveitar a deixa para flertar com outro. Assim, o primeiro vai ficar confuso achando que a culpa é dele porque escolheu o momento errado pra mijar."
"Gênia."
"Eu sei. Mas isso não é certo. Não é legal ser trocada no meio do flerte. Já aconteceu comigo uma vez. Estava numa boate com uma amiga mais bonita, o que é um erro. É sempre bom levar uma mais ou menos nessas ocasiões", expliquei. "Enfim, ela tinha ido comprar bebida e eu fiquei sozinha na pista, quando um cara chegou em mim. Conversamos rapidamente, aquele papo de sempre, que não leva a lugar nenhum e que você provavelmente vai esquecer dois minutos depois, quando estiver sem-graça e perguntar 'ei, qual é mesmo seu nome?".
"Mas e aí? O que aconteceu?"
"Minha amiga voltou com as bebidas. Então ele olhou pra ela e fez aquela cara."
"Que cara?"
"Aquela cara. Tipo, 'humm, merda, cheguei na amiga errada; se tivesse esperado dois minutos eu pegaria a mais bonita.'"
"Ai, que ridículo!"
"Eu sei! Eu vi na hora! Foi sutil, mas eu vi ! E aí ele tentou continuar o papo, como se nada tivesse acontecido, mas eu cortei logo. Disse 'vem cá, amigo, você acha que eu não percebi que você fez aquela cara?"
Juliana riu.
"No fim das contas ele não ficou comigo nem com a minha amiga. Eu ainda vi o ridículo tentando chegar em mais umas meninas. Às três e meia ele arrumou uma peguete derrota e os dois estavam frenéticos no canto da parede."
"E você?"
"Não peguei ninguém, pra variar. Mas o que vale é a ética."

sábado, 17 de abril de 2010

Facadinhas da Psicótica


Papo de night:
"Você trabalha com quê?", ele me perguntou, forjando um interesse quase crível.
"Ah, eu escrevo", respondi, sem muita paciência de explicar o resto.
"Que legal", ele reagiu. "Queria muito saber escrever."
Então eu ri e disse para ele não se preocupar, que havia programas de alfabetização na cidade.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Velhos hábitos e pequenas obsessões


Não tive grandes amores, mas pequenas obsessões. E ao longo dessas muito mal sucedidas incursões sentimentais, eu acabei instaurando um certo padrão.
Antes de tudo, você precisa entender que o ponto de partida desse círculo é estar muito triste ou muito puta - ou ambos - porque alguém não me quis. Esse é o meu estado normal.
Anormal é o oposto. Estar feliz com a minha vida afetiva é a exceção das exceções. E uma vez que você compreende o marco zero, fica mais fácil acompanhar minha patética jornada rumo ao mesmo lugar.
Porque lá estou eu, triste ou puta - ou ambos -, completamente instatisfeita com a conjuntura do Universo, me achando a pessoa mais mal-afortunada que existe, quando surge alguém novo.
Em um primeiro momento, minha reação é descartar a possibilidade, encontrando todos os defeitos possíveis, listando todas razões que tornam aquele sujeito uma péssima ideia. E entenda que essa atitude em nada tem a ver com o rapaz em questão. É que faz parte desse meu padrão ter sérias dificuldades em aceitar mudanças e sair da inércia. E ao encontrar problemas na pessoa nova, eu automaticamente enalteço aquela que não me quis, permanecendo assim no meu estado normal de tristeza ou emputecimento - ou ambos.
Mas, tá. Digamos que o cara novo reuna em si um conjunto de atributos que me faça sair da inércia e me empurre para a etapa seguinte. Então nós saímos, conversamos, nos pegamos freneticamente e eu passo o tempo todo me perguntando o que caralhos estou fazendo ali.
Só que o cara novo me surpreende de alguma forma e eu consigo avançar para o estágio seguinte, onde o outro já não ocupa mais tanto espaço no meu fluxo de pensamentos. Eu já não me preocupo em saber com quem ele está ou o que anda fazendo. Não é mais dele que eu me lembro, distraída, no meio da tarde. E é aí que começa a transição de uma obsessão para outra.
No início ela se dá bem devagar, como se a conexão estivesse lenta. E quando eu menos espero algo muda na rede e tudo acelera. Foda-se o cara que não me quis. Ele foi um idiota. Ocorre uma inversão de papéis e o sujeito enaltecido agora é o cara novo. Ele sim é foda. Completamente diferente, não tem nem comparação. Esse tem muito mais a ver comigo, penso.
O cara novo vira O cara. E tudo parece estar ótimo.
...
Até não estar mais.
Pouco a pouco, as coisas começam a desandar. E o cara novo, que tinha virado O cara, agora passa a ser o cara que faz tudo errado. Já não me surpreende de nenhuma forma - e quando o faz, é sempre de maneira negativa. Tipo, surpresa(!), tem um brinco na gaveta dele! E não é meu!
Nesse momento ocorre outra inversão, bem mais irônica que a anterior. Porque quem volta a ser enaltecido é o cara do começo, o que não me quis, o que tinha virado um idiota.
Nesse ponto do círculo vicioso, eu revejo toda a trajetória e percebo que aquele cara nem tinha sido tão idiota assim. Ele nunca faria comigo o que o cara novo está fazendo. Ele me entendia melhor. Completamente diferente, não tem nem comparação.
E aí eu volto a ficar triste ou puta - ou ambos. Mais uma pequena obsessão pro meu álbum de figurinhas repetidas. Mais uma voltinha frustrante pelo círculo, em tempo recorde.
Mas velhos hábitos não morrem fácil. E estando de volta ao marco zero, só me resta esperar. Mais alguns meses de pequenas obsessões e logo logo chega mais um cara novo.


OLD HABITS DIE HARD, David Stewart.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Prontofalei.


Todo mundo já havia reparado. Eu andava nervosa, não conseguia me concentrar em nada. Minha cabeça estava longe.
Quando começou a afetar o trabalho, não tive escolha. Sem pensar duas vezes, larguei o computador, com a tela em branco há horas, peguei minha bolsa e saí feito uma flecha.
Seguindo aquele impulso incontrolável, chamei o primeiro táxi que passou, decidida a resolver a situação de uma vez por todas.
Cheguei até o meu destino, toquei a campainha algumas vezes e, ao abrirem a porta, perguntei:
"Maria Gadú, o que porra é Shimbalaiê?"
Sem obter resposta, prossegui com o desabafo.
"Não consigo dormir, não consigo comer, não consigo pensar em mais nada. Eu sei que cada um pode interpretar da sua forma, mas eu não aguento mais. Por favor, só me diz o que quer dizer essa palavra maluca pra que eu possa seguir em frente com a minha vida", encerrei, recuperando o fôlego.
Ficamos em silêncio por alguns instantes.
"Eu não sou a Maria Gadú", disse meu interlocutor.
Foi só então que eu percebi que estava falando com a pessoa errada.
"Ih, acho que confundi o endereço. Desculpa te incomodar, Junior Lima", tentei me retratar.
Enquanto ia embora, cheguei a olhar pra trás algumas vezes, ainda com uma certa dúvida.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sem Título


Minha vida não gira em função disso, mas de vez em quando passa pela minha cabeça, no táxi a caminho de uma festa ou descendo a escada rolante do metrô: será que hoje eu vou conhecer alguém?
Eu sempre duvido muito. Essas coisas não acontecem, penso, enquanto rastreio cuidadosamente o perímetro à procura de alguém em potencial.
No fundo eu sei que ele não está ali; seria óbvio demais. Mas também não consigo deixar de procurar. É como se, fazendo isso, eu estivesse me isentando da responsabilidade. Tipo, fiz a minha parte, colega. Procurei pra caramba e você nem estava lá.
Só que esse hábito foi se desenvolvendo e acabou virando um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. E toda vez que eu penso no assunto, toda vez que eu lembro que posso conhecer alguém hoje, eu entro em pânico. Porque percebo que não faço a menor ideia de quem seja essa pessoa. Qualquer um pode ser alguém. É preciso ficar atenta; e - meu deus - como isso é exaustivo.
A impressão que eu tenho é que basta um movimento errado, um segundo de distração, para que eu deixe algo passar. Vai ver que é por isso que eu não consigo dormir à noite. Talvez eu tenha medo de fechar os olhos e perder alguma coisa importante.
Mas é impossível controlar tudo, não tem como. E é bem provável que eu não encontre alguém hoje. Talvez eu não encontre alguém nunca.
De repente, eu que vou ser encontrada.
E em vez de me preocupar tanto em olhar em volta, eu deveria aprender a fechar os olhos e, pelo menos uma vez, deixar que me procurem.

Se alguém for esperto, vai me achar.


WHOLE WIDE WORLD, Wreckless Eric

terça-feira, 13 de abril de 2010

Rapidinhas da Psicótica


Estava esperando para atravessar a rua quando um senhor de aproximadamente sessenta anos começou a cantarolar, do nada:

"I love you baby

Laiá laiá laiá

I love you baby

Laiá laiá laiá

I love you baby

Pa-ra-rá, pa-ra-rá"


Fato que no Brasil tudo vira samba.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Radio blah blah


O "Adorável Psicose" foi eleito o blog do mês pela rádio Sulamérica Paradiso.
E a Psicótica esteve lá no programa Hora do Blush, com Isabella Saes, Fernando Caruso e Leo Jaime, fazendo o que sabe fazer melhor: se constranger em público.
Quando o Leo Jaime perguntou se eu fazia igual ao filme "Atração Fatal", eu confundi com "Instinto Selvagem" e respondi prontamente: "Não, peraí, eu uso calcinha."

All we hear is Radio ga ga
Radio blah blah
Radio what's new?


RADIO GA GA, Queen

domingo, 11 de abril de 2010

Bei Mir Bist Du Schoen

Uma vez eu disse a alguém que me sentia a pessoa mais sem graça do mundo. E que todas as mulheres a minha volta pareciam mais bonitas, mais interessantes e mais gostosas.
Então alguém me disse que se eu enxergasse o mundo como ele, eu seria a pessoa mais autoconfiante do universo.

Cara esperto. Dei no mesmo dia.














Styling e criação: Débora Gotlib
Direção de arte: Paula Maia
Fotos: Fagu e Fernanda Oliveira


ANDREWS SISTERS, Bei Mir Bist Du Schoen (To Me You're Beautiful)

sábado, 10 de abril de 2010

Natalia Klein Vintage*


Não me sinto bonita na maior parte do tempo. E isso não é uma tentativa desesperada de conseguir uns elogios. Não sou tão carente assim. É que eu realmente tenho razões para me sentir dessa forma.
Antes de mais nada: dê uma boa olhada nessa menina à esquerda da foto. Quer dizer, no que a mãe dela estava pensando pela manhã, antes de mandá-la para a escola? "Filha, não esquece de colocar os óculos, os sapatos ortopédicos e esse animal morto no seu cabelo"? "Não, querida, tem que caprichar mais no volume vertical, olha aqui essa foto da Elvira."
E o freak show não para por aí não. Por alguma razão, meus dentes de leite demoraram muito tempo para cair. Tipo - muito tempo. Isso significa que, aos doze anos, enquanto minhas amiguinhas pré-adolescentes davam seus primeiros beijos de língua, eu me encontrava - desculpa, deixa eu respirar fundo - banguela. Fiquei sem meus caninos por um bom tempo, porque além de demorarem a cair, eles também demoraram a crescer.
Você pode achar que isso é o suficiente para aniquilar a auto-estima de alguém, mas nããão. Senta aí e espera o resto. Ainda falta o aparelho móvel, depois o aparelho fixo, depois o incidente com o quadro de vidro e a cicatriz na perna, os cabelos crespos extremamente rebeldes e as inúmeras tentativas frustradas de relaxamento. Isso sem contar com os coleguinhas da escola, porque nada grita mais "me sacaneie" do que uma menina branquela, sardenta, de óculos, aparelho e com um gambá de adorno na cabeleira exótica.
A coisa só foi melhorar depois dos meus dezoito anos, quando eu comecei a ficar mais jeitosinha. Antes disso, fui completamente invisível para os meninos. Miss Cellophane. Eu só era vista na hora de pedir cola, até porque, algum atributo eu tinha que ter, né? E ser esquisita por dezoito anos tem lá suas vantagens. Você põe a leitura em dia, conhece uma porção de autores, amplia seu leque musical, ouve bandas desconhecidas, aprende tudo o que pode sobre jazz, blues, soul, rock. Enfim, é ótimo.
Não sei como eu seria hoje se tivesse ido a todas aquelas festinhas iradas. Se tivesse sido objeto de desejo dos garotos do colégio. Se não fosse excluída dos grupinhos legais.
Não sei.
Talvez eu fosse uma pessoa mais bem resolvida, menos encanada com tantas bobagens, menos paranóica, obsessiva e complexada.
Não me sinto bonita na maior parte do tempo. Mas em vez de odiar cada uma das pessoas e dos eventos que contribuíram para isso, eu faço o oposto. Porque se não fosse por eles eu não seria eu. Minhas questões seriam outras e os caminhos teriam me levado a um outro lugar que não este aqui.
E você, provavelmente, nunca teria me conhecido.


THE SHOW, Lenka

*Referência ao ensaio para Débora Gotlib Vintage.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Rapidinhas da Psicótica


Depois de um dia sem luz e dois sem internet, decidi encarar a chuva e vir até uma lan house atualizar o blog e colocar minha psicose em dia.
Tava pensando numa coisa que sempre acontece quando eu passo muito tempo sem ver alguém, especialmente um cara e, mais especialmente ainda, um cara que com quem eu costumava sair.
"Nossa, mas você está mais bonita", eles dizem.
O que me leva a triste e inevitável conclusão de que nada no mundo enfeia mais do que a convivência.

domingo, 4 de abril de 2010

Retrospectiva Guia da Mente Psicótica


4 - Como escrever um SMS pós-coito para uma psicótica

a) caso você goste dela:

Vamos ser abrangentes, ok? Essa categoria envolve desde um gostar de leve até gostar pra caramba, passando por aquele "gostandinho" ainda meio em cima do muro. Se você se importa com a psicótica com quem passou a última noite, deixe claro. Esse é um momento de transição. É tipo virada de século, quando sempre aparece uma porrada de profetas e videntes anunciando o fim dos tempos. Esse é o momento em que a psicótica aguarda a chegada de boas notícias (eu ia dizer bons fluidos mas, em vista do tema, achei que seria um pouco inapropriado). Então não enrole, nem pense demais no que vai fazer. Comunique o mais depressa possível que o mundo não vai acabar. Anuncie que tudo continua funcionando normalmente no dia seguinte. O comércio vai abrir, as escolas vão estar cheias de alunos, os correios vão receber e enviar correspondência. E a praça de alimentação estará aberta por tempo indeterminado.

b) caso você NÃO goste dela:

Paciência, né. Acontece. Mas, mesmo assim, é preciso deixar claro - sem ser grosseiro. Um "chegou em casa direitinho" mostra que você se preocupa com o bem-estar da moça e, ao mesmo tempo, não diz nada sobre o status da relação de vocês. Se ela for esperta, vai ligar o desconfiômetro. Mas, para não correr nenhum risco de ser mal interpretado, é melhor evitar diminutivos. Pode dar a impressão equivocada de que você está tentando ser fofo. "Chegou em casa direito" também não rola, né? Parece que você tá dando uma bronca na menina. "Chegou em casa bem?". É isso. Funcional e sem apelo afetivo. Tal como a noite anterior.

c) caso você tenha acabado de perceber que é gay:

Não diga isso pra ela em um SMS pós-coito, pelo amor de deus! Segura essa pombagira! Ligue para a sua melhor amiga e diga que só agora entendeu por que sempre fez questão de comprar sapatos com ela. Em seguida, ligue pro Raul da academia, caso ainda não esteja muito tarde. Afinal, você não vai querer assustar seu primeiro pretendente pós-saída do armário. Depois de se acalmar, mande uma mensagem para a moça dizendo "você é TU-DO". Acredite, ela vai sacar. No dia seguinte, deixe na portaria dela uma bolsa divina, réplica perfeita da nova it bag da Prada, aproveitando para perguntar se ela tem um irmão bofinho. Vai que, né?

sábado, 3 de abril de 2010

Retrospectiva Guia da Mente Psicótica


3 - O que um ex não deve dizer a uma psicótica, caso tenha amor à vida

"Estou feliz por você"

Uma das piores coisas que um ex pode fazer, especialmente se foi ele quem deu o pé na bunda, é dizer que está feliz por você. Porque se o cara te deu um fora, ele simplesmente não tem o direito de estar feliz. Muito menos por você.
Imagine a seguinte cena: você está numa festinha, toda serelepe, saindo com um cara novo e dá de cara com seu ex. Ele te pergunta como vão as coisas, você diz que está tudo bem, tudo ótimo, sorri e mexe o cabelo, tentando localizar o bonitinho que te chamou pra festa.
E aí o seu ex diz, todo cheio de sinceridade no coração:
"Estou feliz por você."
(Pausa para vômito)
Tá, tudo bem. Se você não sentisse mais nada pelo sujeito, aquele seria um momento sublime e maduro, onde dois adultos perceberiam que, apesar de não terem dado certo como casal, ainda se respeitam e genuinamente desejam o melhor um para o outro.
Mas, dane-se, você prefere ser infantil e pensa em várias sugestões de locais ermos onde ele pode enfiar a felicidade dele.
Para os rapazes, aqui fica o conselho. Se você dispensou a garota, o mínimo que pode fazer é se mostrar desconsolado ao vê-la com outro. Nem que seja de mentirinha. Só para a sua ex psicótica não ficar achando que é assim tão fácil de ser superada.
Estamos entendidos ou vou ter que desenhar caralhinhos voadores?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Retrospectiva Guia da Mente Psicótica


2 - Como chamar uma psicótica para sair

Quando ligar?

Querido rapaz, você pode e deve ligar sempre que sentir vontade. Mostrar que se importa é sempre uma atitude positiva, desde que você não dê uma de Glenn Close em "Atração Fatal". Quando você dá trela demais para uma psicótica, você corre o risco de entrar na zona de rebaixamento, passando rapidamente de carinha interessante para mala-insuportável-ai-meu-deus-morra-morra-morra.
A coisa é simples. Se você não ligar a semana inteira, você é um escroto filho da puta que não liga a mínima para ela. Se você ligar a semana inteira, você é um louco psicopata carente sufocador. Tudo o que você precisa fazer é achar um meio termo, cruzar os dedos e torcer para ela não estar na TPM.

A hierarquia dos dias da semana

Caso você ainda não tenha se dado conta, os dias da semana são como as cartas do baralho. Assim como o ás não tem o mesmo valor que um dois, uma segunda-feira nunca vai se equivaler a uma sexta ou um sábado. A escala varia de psicótica para psicótica, mas muito pouco. Para mim, ela funciona mais ou menos assim:

Ás = Sábado

Porque sábado é, indiscutivelmente, o filet mignon da semana. É o dia em que se acorda tarde e se dorme na hora que quiser. A menos que, comprovadamente, você tenha que trabalhar, não há desculpas para não chamar uma garota para sair nesse dia. Ela não é idiota, amoreco. Ela sabe muito bem que se você não está com ela, aproveitando o principal dia da semana, você certamente está com outrem. E quando eu digo outrem, eu quero dizer outra. E quando eu digo outra, eu quero dizer vaca baranga que não chega aos pés da psicótica negligenciada.

Rei = Sexta-feira

Por vir antes do sábado, a sexta tem o seu charme. Mostra que o cara tem uma certa pressa em te ver e não quer esperar até o dia seguinte para te chamar para sair. Dependendo do estágio do relacionamento, meu caro rapaz, o convite pode até te dar passe livre para o resto do final de semana (desde que você dê algum sinal de vida até domingo, seja por mensagem, seja por uma ligaçãozinha).

Dama = Quinta-feira

Alguns podem se perguntar, "ah, mas por que quinta e não domingo?", já que domingo faz parte do final de semana e tecnicamente deveria fazer parte do grupo VIP. A resposta é simples. Domingo é o dia oficial da pieguice. Dia de ir ao cinema com o namoradinho, andar de mãos dadas no shopping e todas essas coisas asquerosas para quem vê o domingo apenas como um vácuo entre o sábado e a segunda.
Portanto, se a psicótica em questão não se encaixa no perfil do domingo piegas e está mais para "Sunday, Bloody Sunday", a quinta-feira é uma boa pedida. Sem contar que no domingo rola aquela ressaca da sexta e do sábado. Quando o cara não te liga no final de semana todo e só te chama para sair no domingo, é quase como se ele dissesse: "ei, agora que eu já aproveitei, fiz tudo que tinha que fazer e me diverti horrores com outras pessoas, estou livre pra sair com você". Um abraço, querido. Aqui tu não te cria.

Valete = Domingo

Então. Eu sei que acabei de descascar o coitado do domingo, mas toda regra tem exceção. Se o rapaz, comprovadamente, esteve ocupado durante o fim de semana (e, quando eu digo comprovadamente, eu quero dizer fuçadamente em todos os meios reais e virtuais possíveis, afinal, tu não é psicótica à toa), ele tem um salvo-conduto para te chamar para sair no domingo. Porque, bem ou mal, domingo é melhor do que o que vem aí embaixo.

Lixo = Segunda, terça e quarta

É. Sinto informar, mas assim como em alguns jogos de cartas, a segunda, a terça e a quarta fazem parte do bagaço, do lixo, daquilo que as pessoas descartam. Quando um cara SÓ te chama para sair nesses dias, ele está - consciente ou inconscientemente - te mandando um sinal. E o sinal é: "Hellooo, você não é tão importante assim". Ok, talvez sem o "hellooo", afinal, você não está saindo com uma biba. Caso esteja, pode esquecer este manual. Seu problema é outro.
Bom, mas como nos jogos de cartas, o bagaço pode, eventualmente, tornar-se algo interessante. Às vezes, no lixo, você pode encontrar a carta que faltava na sua canastra real. Cada caso é um caso. Mas via de regra, bom mesmo é o final de semana.
Claro que se você, rapaz antenado, saiu com a picótica num sábado, você automaticamente ganha "créditos de lixo", podendo, na semana seguinte, convidá-la para sair na segunda, na terça ou na quarta. Lembrando que, uma vez gasto, o "crédito de lixo" não mais poderá ser usado, devendo o rapaz voltar a sair com a psicótica novamente nos dias bons, para só então tornar a ter o direito de utilizar os dias-lixo.
Adendo: apesar de serem considerados dias ruins para se chamar para sair, os dias-lixo são uma ótima oportunidade de se mostrar interesse ligando só pra dar um oi.

Que horas ligar?

O bonito mesmo é ligar até às 18h, independente do dia da semana escolhido. Lembre-se que a psicótica também tem planos. E se não tiver, vai fingir que tem. E se não fingir, é porque gosta mesmo de você, portanto, faça o favor de corresponder e ligar na hora certa!
Ligações entre às 19h e às 21h ainda serão consideradas, porém, com maus olhos e um desconfiômetro à mil. Porque as horas estão passando. E quando o cara espera muito tempo para ligar, é como se dissesse "ei, já liguei para todo mundo, não tenho absolutamente nada melhor pra fazer além de sair com você."
Ligações depois das 21h não são nem dignas de comentários. Se o cara te liga a essa hora, ele não tá nem aí pra nada. Ligações pós 21h só valem para pessoas muuuuito íntimas e/ou com justificativas muuuuito plausíveis. No mais, nem pense muito a respeito. Sim, ele só quer te comer. Não, ele não vai te ligar mais. Exceto daqui a um bom tempo, depois das 21h, quando ele procurar seu número (antes ou depois de outros números, isso não importa) e te chamar para sair de novo. Via de regra, fuja desse infeliz.

E fiquem ligados para mais dicas no Guia da Mente Psicótica
 
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