natalia

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mensagem de fim de ano


Não ando com muita vontade de escrever aqui. Não por falta de ideias, nem muito menos por falta de inspiração - acreditem, às vezes eu me sinto vivendo numa matrix da minha própria série. Tipo na véspera de Natal, quando competi com uma mulher por táxis em uma rua deserta. Ou quando acidentalmente flertei com um funcionário gatinho do Consulado Americano.
Mesmo com temas frequentes implorando para serem transformados em textos, eu não me sinto mais motivada. Talvez porque a motivação em si para a existência deste blog tenha sido posta em xeque.
Há quatro anos, uma série de urgências me levou a criar este espaço. Eu estava há tempos sem escrever e havia acabado de sair de um trabalho mecânico de produção para trabalhar como redatora de humor. Mais do que nunca, eu precisava de um lugar seguro, onde pudesse cultivar minha individualidade como escritora. Acima disso, eu precisava descobrir que tipo de escritora eu queria ser.
E, ao longo desses quatro anos, eu abri minhas entranhas pra vocês. Confessei meus medos, descrevi as humilhações mais terríveis, compartilhei meus sonhos, minhas decepções, minhas esperanças. E sempre considerei essa minha parte na troca.
Mas, ao que parece, na Era da interatividade, não é suficiente que eu faça uso da minha vocação para dialogar com o público. Não, não. Eu também preciso mostrar que sou legal, sou bacana, sou da galera. Para provar que eu me importo com os leitores, eu preciso atender às demandas de cada um deles, preciso ser compreensiva com suas carências, preciso me mostrar agradecida. Na verdade, pelo que acompanho em alguns comentários, agradecer e interagir com os internautas é mais do que respeito, é minha obrigação. Afinal, sem eles, eu não seria nada.
E aí a coisa toda começa a degringolar. Porque eu sinto muito, mas não devo absolutamente nada a ninguém. Eu ofereço minha alma, minhas vísceras, o que eu tenho de melhor e de pior. E recebo de volta reforço positivo, experiências de outras pessoas, mensagens afetuosas, outras nem tanto. A troca é essa e, de uma forma ou de outra, todos saem ganhando. Exceto os caras de quem eu falo mal, esses não devem gostar muito de se verem retratados. Mas aí também ninguém mandou partir o coração de uma escritora.
De todo modo, gostaria de deixar uma coisa bem clara. Este blog não é uma obrigação. Nunca foi, nem nunca deverá ser. Ele é o meu espaço, meu cantinho seguro de criação, e quem quiser embarcar na viagem será muitíssimo bem-vindo. Mas se eu me sentir coagida aqui dentro, como ando me sentindo ultimamente, não vou hesitar em parar.
Aos que compreendem o que eu disse, um beijo enorme. Aos que permanecerem insatisfeitos, não se exaltem. A porta da rua é a serventia da casa.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Da série: diálogos psicóticos



"Já faz quase três anos", ele disse, num tom simpático. "Não é possível que você ainda tenha raiva de mim!"
"Bom...", tentei contra-argumentar, "não é que eu não goste de você... mas odiar é uma palavra forte, você não acha?"
"Como assim, eu não falei odiar."
Prossegui, sem prestar muita atenção no que ele dizia: "Ninguém aqui tá falando de nojo. Eu não sinto ânsia de vômito toda vez que alguém menciona seu nome numa conversa de bar."
"Quê?"
"Não é que eu olhe pra você e queira socar essa sua cara estranha e desproporcional até ela ficar ainda mais estranha e desproporcional, se é que isso é possível. Quer dizer, eu disse em algum momento que sentia vontade de cuspir em cima de você? Calma aí, né?! Vamos ser sensatos. Não é como se eu desejasse que seu corpo entrasse em algum tipo de combustão interna e você explodisse e começasse a pegar fogo do nada. E depois você ficasse correndo de um lado pro outro, em chamas, urrando de dor, feito um demente dos infernos, que de fato você é. Seu demente dos infernos."
Ele ficou mudo.
Eu sorri e dei dois tapinhas em seu ombro, como quem diz "desejo tudo de melhor pra sua vida". Vocês sabem, não sou de guardar rancor.

domingo, 4 de dezembro de 2011

A afetividade torta


Acho que o maior problema dos relacionamentos contemporâneos é da ordem gastronômica. Da forma como eu vejo - e talvez esteja influenciada pela fome da madrugada - as pessoas são como grandes tortas de sabores variados. Algumas a gente bate o olho e já sabe que vai gostar, às vezes só pelo cheiro. Outras vezes, a gente segue a intuição e só depois descobre que é alérgico a nozes, ou pior, que a torta em questão curte sertanejo universitário.
Mas, ao contrário do que você possa estar pensando, o problema dos relacionamentos contemporâneos não reside no fato de que somos tortas gigantes. Tortas são bonitas e gostosas, na grande maioria das vezes - exceto nas festas de aniversário em escritórios no centro da cidade. A tristeza da coisa está na constatação de que estamos vivendo uma espécie de comidaaquilorização da afetividade. Isso significa que, devido a alta oferta de tortas no mercado, ninguém consegue se focar em apenas um sabor.
O que temos hoje é uma porção de tortas sendo vorazmente garfadas e deixadas de lado, aos pedaços, disformes, tristes. Todo mundo quer um pedacinho de torta, uma fatiazinha fina do tipo "estou-de-dieta-não-quero-muito". Tem sempre alguém querendo dar uma mordiscada, uma lambidinha, uma passadinha de dedo marota. O que ninguém quer - ou tem coragem de fazer - é arriscar e levar a torta inteira para casa.
E essa é a grande lástima da nossa geração. Estamos acostumados a tirar lasquinhas de várias sobremesas e levar à balança do restaurante para pesar. É a insustentável leveza da torta mousse de chocolate e do cheesecake de framboesa. Estamos acostumados a ter muitas, muitas opções de comida. E de pessoas. Conheço gente que tem mais de 1.000 amigos no Facebook. Como se alguém fosse fisicamente capaz de ter mil amigos.
E qual é o resultado disso? Tortas garfadas e destroçadas, sem lugar cativo na geladeira de ninguém, vagando por aí, pelas noitadas, pelas festas, tristes, tortas. E, pouco a pouco, elas vão perdendo a doçura. Vão se tornando descrentes, azedas, estragadas pelo ataque dos garfos despretensiosos.
Somos tortas. Claro que somos comidas. Mas o que eu queria mesmo era experimentar a sensação de ser a preferida de alguém. Aquela que é levada dentro do pacote - o pacote completo, com todos os defeitos e qualidades, com todas as garfadas sofridas, com tudo aquilo que faz de mim a torta gigante que eu sou. Estou farta de me pedirem pedacinhos. Quero ser levada por inteiro.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre o alho poró


Entrei no supermercado decidida a comprar legumes e verduras. "Alho poró", concluí. "Nunca comprei alho poró, vou comprar alho poró", refletia, orgulhosa, enquanto me dirigia à seção de hortifruti, onde tudo é mais verde que uma mala cheia de dólares.
Chegando lá, me deparei com um empecilho. Não conseguia encontrar o alho poró em meio a tanta variedade de artigos monocromáticos. Foi quando pedi ajuda a um dos funcionários do supermercado.
"Por favor, você saberia me informar se tem alho poró?", perguntei, excessivamente formal, como devem ser as pessoas que se alimentam de alho poró.
"Ali", ele respondeu, com o que seria o oposto da minha postura. Creio que ele chegou a assoar o nariz, logo após enunciar algo que variava entre uma localização geográfica e um nome muçulmano.
"Onde exatamente?", tornei a perguntar.
"Bem ali".
Eu virei para olhar o que deveria ser bem ali, mas não consegui identificar o objeto da minha busca. Foi quando o funcionário perguntou, num tom quase debochado:
"A senhora sabe o que é um alho poró?".
Que insulto. Especialmente pela forma como ele falou a palavra "sabe". Uma ênfase que pontuava a minha total ignorância em relação a um assunto que eu me esforçava tanto para aparentar ter domínio.
claro que eu sei o que é um alho poró", retruquei, dando a mesma intensidade à palavra "claro" que ele havia dado a "sabe". E prossegui: "Eu já vi várias vezes um alho poró... picado no meu prato... num restaurante", disse, segurando o artigo em uma das minhas mãos.
"Ah, é?", questionou o funcionário. "Então por que você tá segurando um rabanete?"
Fiquei muda por alguns instantes.
"Porque foi isso que eu vim comprar", concluí, dirigindo-me ao caixa.
Nesse dia eu não comprei alho poró.

domingo, 23 de outubro de 2011

Boletim da Psicótica


Aos que pediram, fiquem sossegados. Muitíssimo em breve, teremos textos novos aqui no blog. Várias situações malucas têm acontecido, o que não me falta é material.

Enquanto isso, queria aproveitar o espaço (afinal, como diria a Dra. Frida, "meu espaço, seu espaço") para divulgar umas cositas importantes.

Estou concorrendo a dois prêmios super bacanas e a votação é totalmente aberta ao público.

O primeiro é o Prêmio Monet, que elege os melhores programas da tevê por assinatura. Adorável Psicose está concorrendo como melhor humorístico!

Para votar no Prêmio Monet 2011, clique aqui.

O segundo também é bacanérrimo. É o Prêmio Extra, que elege os melhores do ano na tevê aberta. Nesse, estou concorrendo na categoria "Melhor Revelação Feminina", pela personagem Nikita do programa Macho Man.

Para votar no Prêmio Extra 2011, clique aqui.

Por fim, mas não menos bacana, vou postar a entrevista que dei há algumas semanas no Programa do Jô. Pra quem não viu e pra quem quer rever a prova da minha infância constrangedora sendo exibida em rede nacional:

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Psycho Channel - parte 5

Últimos episódios da segunda temporada. Esses e todos os outros
estão disponíveis no canal do Zingo no You Tube:

Episódio 14 - "O Zingo"


Episódio 15 - "A Vaga"


Episódio 16 - "A Sitcom"

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Humor não é bullying


Olhem bem para a foto acima.
Sou eu. Ou melhor, era eu, quando eu tinha uns quatro ou cinco anos. Eu era estranha.
A começar pelo imenso volume vertical do meu cabelo, uma coisa mezzo Marge Simpson, mezzo Elvira Rainha das Trevas. O volume é tão vertical, mas tão vertical, que invade o título da revista fictícia "A Criança". E por pouco não vai ao infinito e além, ultrapassando até mesmo os limites da foto em questão.
Trata-se de uma "edição especial" como diz o lettering. Contendo "beleza", "simplicidade dos traços", "estilo infantil" e, é claro, "vitória da qualidade". Meu rosto, como vocês podem ver, possui um lado obscuro. O Pink Floyd se inspirou nessa foto para compor "The Dark Side of The Moon".
Eu poderia passar o dia mencionando os detalhes dessa rica montagem, de uma Era Pré-Photoshopiana, mas vou me resumir ao que realmente importa agora: eu era estranha.
E uma pessoa com esse nível de estranheza aprende desde cedo o que é ser alvo de piadas. Se hoje eu consigo rir e fazer os outros rirem com isso, é porque um longo caminho já foi e continua sendo percorrido.
Não existe nada mais fácil do que sacanear quem já é frequentemente sacaneado. É tiro certo, todos vão achar graça. Mas aí não estamos falando de humor. O nome disso é bullying.
Anos se passaram desde que essa foto foi tirada e agora eu me vejo em um cenário muito parecido com o que eu vivi quando era só uma garota estranha. Recentemente, dei uma entrevista em que me perguntaram sobre os limites do humor. Por uma infelicidade, publicaram apenas um trecho da minha resposta, em que eu digo que "não posso mais fazer piadas com anão, negros, homossexuais".
É importante deixar claro que eu disse sim essa frase pavorosa. Mas em um contexto muito mais amplo. O que eu expliquei - ou, pelo menos, tentei explicar - é que não se pode fazer piadas envolvendo assuntos polêmicos sem correr o risco de ser tachado de preconceituoso. Mas fingir que o preconceito não existe é infinitamente pior.
Não sou a favor de fazer graça de quem já tem que lidar diariamente com a intolerância. Sou a favor de se fazer piada da intolerância em si. Em colocar na mesa os nossos podres para que a gente lembre que eles existem.
O objetivo do humor, na minha opinião, não é simplesmente fazer rir. Se fosse, contar piadas sobre negros numa convenção da KKK ou sobre judeus na Associação Viva Hitler seria um estouro de sucesso.
Programas como "Seinfeld", "Family Guy", "Modern Family", exploram muito bem essa linha tênue do dito politicamente incorreto. Em "Seinfeld", durante uma cena em uma loja de cadeira de rodas, o vendedor fala, sem pestanejar:
"Esse é nosso melhor modelo, a Cougar 9000. É a Rolls Royce das cadeiras de rodas. Isso é tipo... você quase fica feliz de ser deficiente."
Esse é o exemplo clássico de uma piada que causa uma risada desconfortável, porque vem acompanhada de uma crítica sutil. Pessoas como esse vendedor existem e falam absurdos assim o tempo todo. A graça não está em ridicularizar o deficiente. A piada reside em alfinetar um preconceito vigente, que existe e não deve ser ignorado.
Em "Modern Family", o casal gay moderninho fica indignado quando descobre que sua filha, um bebê vietnamita, é escolhido para fazer um comercial estilo "Godzilla em Tóquio". Ultrajado, um dos pais se levanta e vai buscar a menina, dando um discurso educativo sobre as diferenças geográficas entre o Japão e o Vietnã, enquanto se confunde e pega o bebê errado.
São programas bem sucedidos, que romperam a barreira do tal do politicamente correto em prol de um humor de qualidade, que consegue, de maneira muito sagaz, ser ao mesmo tempo ácido e construtivo.
É nesse humor que eu acredito. Piamente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Psycho Channel - parte 4

Todos os episódios estão disponíveis no canal do Zingo no You Tube:

Episódio 10 - O Universo Paralelo


Episódio 11 - O Complexo de Édipo


Episódio 12 - O Dr. Feldman


Episódio 13 - O Namorado

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A origem do medo ou Haja o que houver, não leia a cartilha de segurança do avião


Uma vez me perguntaram se eu tinha medo de avião. Respondi que não, claro. Eu não tenho medo de uma estrutura metálica com microjanelinhas de submarino e fileiras de poltronas que espremem suas pernas como paredes movediças do Indiana Jones. Não. Eu não tenho medo de avião. Eu tenho medo é de morrer.

Não possuo nenhum embasamento científico sobre o assunto, mas acredito que todo medo, no fundo, está atrelado ao medo da morte. Fobia a aranhas, elevadores, cobras, medo de entrar no mar, de altura, de ser assombrado por almas penadas sedentas de sangue. Tudo isso é medo de partir dessa para melhor. Ou pior, vai saber.

É por isso que nunca entendi uma certa fobia que vi na tevê faz um tempo, envolvendo – música de terror – botões. Sério mesmo. O cara tinha pavor de botões. Botões, desses de costurar na roupa. O pesadelo desse sujeito deve ser ir a um armarinho. Imagina... Ele olhando pros lados e berrando de horror, ahhhh botões! Botões! – e os botões lá, encarando o botãofóbico como pássaros hitchcockianos.

Se pelo menos fossem zíperes... Zíperes me parecem mais perigosos e, se você se esforçar bastante, pode até morrer de zíper. Infelizmente, ele não resistiu aos ferimentos causados por um fechamento equivocado de zíper. Mas botões? De que forma poderiam estar associados à ideia de morte? É levar muito ao pé da letra a expressão “abotoar o paletó”.

Mas voltemos ao meu medo. Que não é de avião, mas de morrer dentro dele. Ou fora dele, sugada pela pressão exterior. Desde o momento em que a “aeronave” – como eles gostam de chamar, como se a palavra “nave” tornasse tudo menos mortal – acelera para decolar até o exato instante em que a primeira rodinha toca o solo, eu não consigo pensar em outra coisa além de “ai meu deus, eu vou morrer”.

“Ai meu deus eu vou morrer”, enquanto a aeromoça explica como se utiliza uma máscara de oxigênio – procedimento que, aliás, a maioria das pessoas não vai saber fazer na hora, pois nunca prestou atenção na demonstração. “Ai meu deus eu vou morrer”, quando estamos passando por uma área de turbulência. “Ai meu deus eu vou morrer” e minha última refeição será um saquinho de batatas fritas genéricas.

Considerando isso, imaginem qual não foi meu dilema quando, ao esperar a hora do embarque, uma atendente se dirigiu a mim e me ofereceu um lugar no vôo anterior. Quer dizer, clássica situação da pessoa que escapou por um triz de uma tragédia horrível. O problema era deduzir qual seria a “aeronave” condenada: a que constava na minha passagem ou aquela que o destino estava me oferecendo. Porque, não se enganem, um dos aviões estava fadado a cair.

Não pude deixar de pensar naquelas pessoas que se atrasaram para o Titanic. Eu estava a ponto de ter uma história como essa. Ou dar essa história de bandeja para a pessoa que sentaria no meu lugar no vôo seguinte. Assento 3A. Eu gosto de janela.

Acabei abraçando a intervenção do destino e escolhi o vôo anterior. A senhora que entrou comigo achou bom quando viu que o avião estava vazio. Tola, ingênua senhora. Quando eu vi aquela “aeronave” sem quórum de passageiros, eu tive certeza de que iria morrer. E seria uma tragédia meia boca, do tipo dos males o menor, pelo menos o avião não estava cheio. Não duraria nem dois dias nos noticiários. As imagens dos familiares chorando no aeroporto seriam pouco comoventes, coisa de dez, quinze gatos pingados. O cinegrafista teria até que fechar mais o quadro para o assunto parecer minimamente relevante.

Mas eu não tenho medo de avião. Nem de aeronave. Talvez de espaçonave. Não acharia conveniente ser abduzida nesse momento, ando muito sem tempo. Só que morrer aí também já seria sacanagem. Eu acabei de mobiliar meu apartamento e nunca tive um relacionamento sério. Eu ainda nem ganhei um Oscar ou beijei o Wagner Moura. E eu nunca viajei para as centenas de lugares incríveis que pretendo viajar. Provavelmente de avião. E morrendo de medo de morrer.

domingo, 4 de setembro de 2011

Psycho Channel - parte 3

Novos episódios da segunda temporada de Adorável Psicose,
todos postados no canal do Zingo no You Tube:

Episódio 09 - "O Kikito"


Episódio 10 - "O Universo Paralelo"


Episódio 11 - "O Complexo de Édipo"


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Psycho Channel - parte 2

Mais
episódios da nova temporada de Adorável Psicose, todos postados no canal do Zingo no You Tube:

Episódio 06 - "A síndrome de mestre dos magos"


Episódio 07 - "A bunda"


Episódio 08 - "O teste de Q.I."

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Da série: Rapidinhas da Psicótica


Três anos de Zorra Total deixam sequelas em uma redatora.

Por exemplo, se eu digo que meu nome é sem acento e o cara me responde que o ditongo dele é acentuado, nada no mundo vai impedir meus olhos de percorrerem o embaraçoso caminho em direção ao pênis do sujeito.

Só resta saber se o acento é agudo ou circunflexo.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Psycho Channel - parte 1

Caros psicóticos, aqui estão os cinco primeiros episódios da nova temporada de Adorável Psicose, todos postados no canal do Zingo no You Tube:

2x01 - "A Ninja"


2x02 - "A corrida"


2x03 - "Os cinco estágios"


2x04 - "O gayzorcismo"


2x05 - "A depiladora alemã"

terça-feira, 5 de julho de 2011

Momento "Frankly my dear"


Não sei se vocês sabem, mas eu leio os comentários dos leitores. Melhor dizendo, eu leio todos os comentários dos leitores. Nem sempre respondo tudo, mas certamente acompanho o que vocês dizem por aqui.

Dia desses me deparei com essa pérola da interatividade virtual, deixada - é claro - por um leitor anônimo:

"Lendo seu blog, e vendo o seu programa, fico cada vez mais frio, cada vez mais desgraçado, obrigado por me mostrar claramente e me fazer ter a certeza de que mulher é realmente um bicho que não presta e que é assim que deveriam ser tratadas, ou pra ser mais suave e não desumano, simplesmente algo que não se deve dar muito importancia, porque realmente não é importante."

Bom, no meio de tanta misoginia, fica até difícil saber por onde começar minha interpretação. Mas vamos lá. Para início de conversa, sim, concordo, você é um desgraçado. Me arrisco, inclusive, a fazer três possíveis diagnósticos a seu respeito:

1 - Você é um psicopata cheio de ódio reprimido pelas mulheres que supostamente te esnobaram ao longo da sua vidinha medíocre. Mas não se preocupe, você ainda será famoso. Vai aparecer na tevê como o maníaco da fita crepe ou algo que o valha;

2 - Você é uma baita bichona reprimida, que desconta em nós o ódio por não ter coragem de pegar um Ricardão. Se Freud dizia que as mulheres têm inveja do pênis, você certamente tem cobiça-obsessão-meteoro da paixão;

3 - Você é uma bichona reprimida que virou um psicopata cheio de ódio reprimido. E eu tenho muito, muito medo de você, mona do mal.

Ainda assim, deixo aqui aquele bom e velho:

"Frankly my dear..."


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cala a boca, Galvão


Quando uma coisa é boa demais pra ser verdade, é porque geralmente não é. Não sei com vocês, leitores descolados e bem resolvidos, mas comigo costuma ser assim.
No começo, os caras (dizem que) gostam de mim. Dali a pouco, eles (enfatizam que) gostam muito de mim. E então eu penso, "é, quem sabe, de repente", e aí eu começo a gostar deles. Dali a pouco, eu passo a gostar muito deles. E quando eu penso que tudo vai dar certo, afinal, os dois gostam muito um do outro, algo acontece. Ou melhor, alguém acontece.
Tem sempre uma outra pessoa no meio do caminho.
Não que eu acredite em vidas passadas, mas eu devo ter sido uma destruidora de lares sem coração. Ou então, tenho um talento nato para escolher os que não me escolhem. Os que me escolheriam, eu certamente deixo passar.
Estou cansada desse déjà vu dos infernos. Já ouvi certas frases tantas vezes que elas nem machucam mais. Passam batidas, como aquela mulher que entrou no supermercado com uma faca nas costas e não sentiu nada. Eu vi no Fantástico uma vez.
"Gosto muito de você, mas" continua sendo meu hit. Seguido por "não me compare com os outros" e "não quero te magoar". Se houvesse uma playlist das minhas frustrações, essas três estariam no topo, tocando em modo repeat. Em (des)compensação, existe uma porção de coisas incríveis que eu nunca ouvi de ninguém.
Mas o que me deixa mais triste não é nem o fato de que as coisas podem (e provavelmente vão) dar errado. O mais triste é que eu não acredito mais que elas possam dar certo. Eu me restrinjo a ser uma mera observadora dos acontecimentos, daquelas bem chatas, que comentam em voz alta: "viu, eu sabia que ia dar merda."
Eu sou o Galvão Bueno da minha vida afetiva.


MÚSICA SUGERIDA pelo leitor Jeff Mendes.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Futuro do Subjuntivo


Nada no mundo me deixa mais frustrada e mais inconsólavel do que não acertar. São horas me martirizando, reconstituindo a cena, refazendo o momento exato do não acerto e imaginando como a vida seria muito melhor e eu seria muito mais feliz se não tivesse errado.
Na verdade, só existe uma coisa pior do que errar: errar de novo. Errar múltiplas vezes. Errar pra cacete. E eu já errei pra cacete.
Hoje, por exemplo, eu errei uma conjugação verbal. Três vezes. E eu me odeio por isso. Vezes três. Porque esse é meu ofício. Eu posso errar a conta do boteco - especialmente se eu estiver bêbada, o que geralmente acontece quando eu estou num boteco -, mas errar conjugação verbal é inaceitável.
É por isso que eu nunca levantava a mão para responder as perguntas dos professores. E ficava indignada quando a Ana Catarina me ouvia balbuciar a resposta e repetia em voz alta, como se ela fosse muito inteligente. Maldita Ana Catarina.
O dia em que eu levantei o braço e dei a resposta mais equivocada do mundo foi o dia em que eu decidi nunca mais arriscar. Estaria muda, mas nunca errada.
A mesma lógica se aplica aos meus relacionamentos afetivos. Depois de vários fracassos retumbantes, decidi ser mais do que muda. Virei um imenso bloco de concreto que não erra, e também não quebra.
O problema é que sempre haverá uma Ana Catarina ao lado, pronta para dar a resposta por você. E ela não terá medo de errar. Vai levantar o braço e berrar para a sala inteira ouvir. Malditas Anas Catarinas. Enquanto eu estiver frustrada e inconsolável, elas estarão equivocadas e infinitamente mais felizes.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Enquanto isso...


Gravando sete dias por semana, em processo de exaustão completa. Enquanto não vem texto novo, vou postar aqui o texto publicado na Revista de Domingo do jornal O Globo.

Onde se conhece alguém?

Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que eu não faço a menor ideia. Não sei o que se passa com os homens interessantes dessa cidade. Ao que parece, eles se escondem em algum porão secreto e, quando aparecem, já estão casados ou namorando. Ou então, o porão era uma espécie de armário e eles saem de lá sarados e fãs da Lady Gaga.
Uma amiga minha, que eu considero legal e descolada, disse que conheceu o namorado dela num samba. Concluí que eu também poderia perfeitamente conhecer alguém interessante num samba. Exceto por um detalhe. Eu não sei sambar. Quer dizer, quando o lugar está bem cheio e escuro, eu finjo que sei sambar. Tenho uma técnica infalível que consiste em mover os ombros e a cabeça como quem está sentindo a música e erguer as mãos com as palmas viradas pra cima (de preferência durante o refrão, quando eu também finjo saber as letras).
Mas como a técnica não inclui dançar em dupla, percebi que será bem difícil conhecer alguém interessante num samba. Talvez flertando num bar. Só não sei que bar. Aqui no Rio, só conheço bares com mesas para grupos de amigos ou casaizinhos. Ou grupos de amigos compostos por casaizinhos. E eu geralmente estou nessas mesas, como representante do número ímpar.
De todo modo, é impossível flertar nesse tipo de bar. Primeiro porque eu não sei flertar. Quando eu fixo o olhar em qualquer coisa por mais de cinco segundos, meus olhos começam a arder e a lacrimejar. Dali a pouco o cara vai achar que eu estou chorando porque estou deprimida.
Também não sei ser sedutora/sensual. Não suporto aquelas mulheres que ficam mexendo no cabelo de maneira sexy. Talvez porque meus cabelos sejam cacheados e não me seja permitido ficar mexendo neles de maneira sexy. Na única vez que tentei fazer isso, meus dedos ficaram presos no meio do caminho porque os fios estavam embaraçados. É por isso que se for pra conhecer alguém interessante, não vai ser nem num samba, nem num bar.
Uma outra amiga minha, que eu também considero legal e descolada, disse que conheceu o marido dela em uma boate. Aliás, falando nisso, qual é o termo atual para “boate”? Acho “boate” muito anos 60. E discoteca é super anos 70. Afinal, qual o nome que se dá àquele lugar insalubre e lotado onde uma porção de gente desinteressante se reúne para beber e dançar ao som músicas desagradavelmente altas? Uma terceira amiga minha, também muito legal e descolada, disse que o termo para isso é “night”. Tenho certeza absoluta de que se for pra conhecer alguém interessante não será nem num samba, nem num bar, nem na “night”.
Nossas amigas legais, descoladas e solteiras têm sempre alguém ótimo para nos apresentar. E eu sempre penso que se o cara fosse assim tão ótimo, as amigas iriam querer pra elas. Já as legais, descoladas e comprometidas entram numa de nos apresentar os amigos dos namorados delas. Outra roubada. Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que amigo de namorado de amiga NUNCA é interessante. Eles são sempre meio carecas, gordos e cheios de opiniões irritantes sobre vários assuntos. Quando aparece um mais bacaninha, pode ter certeza de que é comprometido.
Talvez as pessoas interessantes estejam no cinema. Ou numa exposição de um artista plástico incrível que eu não vou saber o nome porque não sou culta o bastante. Talvez essas criaturas estejam do seu lado e você não perceba. Ok, isso é totalmente mentira. Eu olho para os lados O TEMPO TODO e não vejo nada.
Ainda não descobri qual é o tal porão secreto onde os homens interessantes e solteiros do Rio se escondem. Se alguém ficar sabendo, por favor, me conte. Até lá, triste admitir, poderei ser vista circulando pela cidade, provavelmente em sambas, bares e “nights”. Talvez até saindo com amigos de namorados de amigas. E sempre, sempre olhando para os lados.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tarte tatin


Você pode não acreditar, mas existem coisas mais difíceis do que pedir uma tarte tatin depois de duas garrafas de vinho num restaurante francês.
Por exemplo, é muito difícil continuar encarando uma pessoa com dignidade depois que ela entra no banheiro sem bater e te flagra naquela posição de-pé-com-joelhos-semiflexionados-para-não-encostar-no-vaso.
É igualmente difícil ser natural e espontâneo com alguém que sabe que você está interessado. Quando você gosta de um determinado ser humano, ele fica sabendo e você fica sabendo que ele ficou sabendo, o natural é que você volte a ter treze anos, na mesma hora.
O fato é que é quase impossível pronunciar tarte tatin quando se está bêbado sem parecer um gago ou um feiticeiro dizendo as palavras mágicas. Mas é ainda mais difícil pedir desculpas quando se é muito orgulhoso. Mesmo que as desculpas sejam merecidas.
Parece que elas ficam presas em algum tubo defeituoso do encanamento cerebral e lá estacionam, atravancando toda a enxurrada de mil perdões que estava pronta para desaguar pela boca. A mesma boca que se move tão facilmente e solicita de maneira habilidosa, quase cool, uma deliciosa fatia de tarte tatin.

sábado, 9 de abril de 2011

Adorável Psicose - 2ª temporada

Vocês já assistiram o teaser da nova temporada da série?



Vou confessar que eu só me dei conta de que andaria pela rua com a calcinha de fora às vésperas da gravação. Acho que, quando estou escrevendo, esqueço que a situação constrangedora é para mim mesma.

As madeixas cacheadas foram cortadas por Ricardo Moreno, dono de um dos salões mais lindos que eu já vi, o RM Trends.


O RM Trends fica no Leblon, na Av. Ataulfo de Paiva, 591. E os telefones são (21) 3435-8534/ (21) 9988-3623.

Divulgo na maior porque é super merecido!

Beijocas a todos e prometo atualizar mais. Tenho total consciência de que tudo que está acontecendo agora começou com este espacinho aqui.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Tomou seu Toddy hoje?



"Toddy contém porque contém mesmo."


***
Dica do amigo Rodrigo Brazão.


terça-feira, 22 de março de 2011

Episódio 5 - A mãe psicótica

O último da primeira temporada.

Lembrando que em maio estreia a segunda temporada, com 16 episódios inéditos!

Parte 1



Parte 2

terça-feira, 8 de março de 2011

Elke Gaga ou Lady Maravilha

Já quero postar sobre isso desde o ano passado, mas sempre ficava com preguiça de caçar as fotos. Hoje eu estava com preguiça de caçar palavras para um texto novo, então aí vão minhas humildes montagens:









E aí? Quem é quem no jogo do bicho estranho preso no cabelo?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Trilha sonora


Saudações psicóticas!

Sim, eu ando sumida. Mea culpa, mea culpa.

Quer dizer, mea e dos meos chefes no Multishow, que me encomendaram três episódios a mais pra essa segunda temporada. O que significa um total de 16 episódios escritos por esta psycho-roteirista que vos fala.

Estou dedicando todas as minhas forças a esses roteiros, por isso o blog anda meo largadinho, coitado.

Mas pra não deixar vocês na mão, vou postar aqui algumas das trilhas que me inspiraram a escrever os episódios dessa temporada. É que eu sou super musical. Às vezes uma música me dá uma ideia de uma cena, de uma piada e até de um episódio inteiro.

Aí vão algumas que irão compor a trilha sonora de Adorável Psicose, season two:

Betty Everett - "Shoop Shoop Song"



Barbra Streisand - "Don't Rain on My Parade"



"Fígaro", de "O Barbeiro de Sevilha"



Manfred Mann - "Do Wah Diddy"




Henry Mancini - "Peter Gunn Theme"


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Adorável Psicose - 2ª temporada

Foi dada a largada!

Em maio estreia a nova temporada de Adorável Psicose no Multishow, com 13 episódios inéditos e ainda mais psicóticos.

Aqui vai um resumão da primeira temporada, só para dar o gostinho:

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para o meu passar


Há mais ou menos um ano, eu voltei a fazer análise. Dentre os vários - VÁRIOS - motivos que me levaram a deixar grande parte do meu contracheque na mão de um homem que passa quarenta minutos por semana me ouvindo reclamar, está um sonho. Não do tipo Martin Luther King. Era só um sonho recorrente que eu costumava ter.
Um belo dia eu abria uma das gavetas do armário e encontrava um gato de estimação que eu não via há anos. Era como se eu o tivesse esquecido ali, sufocado. A sensação era horrível. O gato, ainda filhote, não tinha crescido quase nada, me olhava com ódio. E fazia aquele som detestável que os gatos fazem quando estão prestes a atacar.
Como eu pude esquecer meu gato na gaveta?, eu pensava durante o sonho, que parecia muito real.
Mas foi só durante uma das sessões que a ficha caiu. É claro que no fundo eu já sabia. Meus sonhos são sempre ridiculamente simbólicos. "O gato é você, Natalia", disse o psicanalista. E eu tive um pouco de vontade de chorar. Mas em vez disso, respondi "ah, brigada, são seus olhos".
Então eu me pus numa gaveta?, pensei, cerca de quarenta minutos depois do insight. Mas que parte de mim?, argumentei comigo mesma. Afinal, eu tenho quase 1,80m, não caberia toda lá.
Foi aí que eu me lembrei de uma história que minha mãe sempre conta. Sabe aquela cantiga, "se essa rua fosse minha"? Quando eu eu tinha uns três anos, eu cantava o final errado. Eu esquecia o amor.

Se essa rua, se essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu passar.

Eu achava essa história absurda, até que assisti um vídeo de quando eu tinha uns três anos. Cantando essa música. Sem o amor.
Num primeiro momento, isso pode soar meio triste. Mas se você pensar bem, tem lá sua dignidade. Quer dizer, você procura uma rua, faz ela ser sua, manda ladrilhar, e aí os pedreiros não aparecem, então você tem que ladrilhar tudo sozinha, com pedrinhas de brilhante ainda por cima, e tudo isso pra quê? Pro seu amor passar?
Não, amor. Vai procurar a sua própria rua. A gente se vê no cruzamento.
Eu sei o que eu quero desde que eu tinha três anos e cantava errado. Eu nunca sonhei com o amor. Só com o meu passar. Numa rua com pedrinhas de brilhante.
E embora continue fazendo análise, nunca mais tive aquele sonho com o gato na gaveta.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Momento "Frankly my dear"


O Momento "Frankly my Dear" é uma homenagem a uma das falas mais célebres da história do cinema. "Francamente, querida, eu não tô nem aí."

E os vencedores da edição de hoje são anônimos. Eles postaram os seguintes comentários sobre o post anterior:
Anônimo disse...
O problema estar em dar. Nunca ninguem vai se apegar a quem dá assim fácil sem nem namorar, eu hein! Que idéia doida!
Anônimo disse...
Se acharam no lixo foi?? Que saem dando pra qualquer a torta e a direita, sem nehum compromisso, nenhuma obrigação. É bem feito, querem a parte boa numa pressa ridicula e depois reclamam. É bem feito.
Segurem essas pererecas loucas!!!!!
Como os autores não se identificaram, só me resta supor que se trata de pré-adolescentes ingênuas, que ainda acham que namorar significa estar imune às inseguranças desse mundo pós-moderno.

Estamos no século 21, amores. As pessoas permanecem juntas porque se gostam, não por causa de rótulos. Namoro não significa nada. Nem muito menos casamento.

E tem mais. Dar antes de assumir um relacionamento é se valorizar sim. (Bom) Sexo é fundamental. Eu que não me arrisco a namorar um meia-bomba inábil!

Portanto, para os autores desses comentários, nosso bom e velho:

"Frankly my dear..."


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

E amanhã também


Tenho ouvido muito uma música chamada "Hey, Soul Sister". Não porque eu gosto, mas porque sempre toca na academia. E, sim, eu ando frequentando uma academia. Chocados? Eu também.
E pior do que passar uma hora da sua vida literalmente sofrendo - é só olhar em volta, naqueles aparelhos medievais de tortura, não tem um só ser humano que não esteja fazendo cara de dor; pior do que aquela maldita série de exercícios - eu tenho certeza de que o tempo na academia passa mais devagar do que no resto do mundo; pior do que a minha obsessão por desinfetar cada aparelho que eu uso; pior do que isso tudo junto ao quadrado... é a música.
Música de academia não foi feita pra ser boa. Não existem concessões no inferno. Se é pra sofrer, então vamos amargar o pior sofrimento já inventado pela civilização, desde o advento da ópera.

Pois bem, tendo esclarecido a questão, voltemos a "Hey, Soul Sister". Que é uma música deveras elucidativa para as mulheres, basta olhar o refrão.

Hey soul sister
I don't wanna miss
A single thing you do
Tonight.

A letra parece fofa e quase nos leva a crer que o eu lírico está apaixonadinho pela moça a quem ele muito singelamente se refere como "soul sister". Mas essa impressão é só para os não iniciados. Psicóticos de verdade detectam a dura verdade por trás dessas palavras.
Sim, ele acha a mocinha incrível e não quer perder nada que ela faça... naquela noite.
Percebem a artimanha?
Quer dizer, o cara fala uma coisa bonitinha e a tal da "soul sister", no auge de seu derretimento sentimental , acaba deixando passar - ou pior, escolhe deixar passar - o elemento mais importante da frase. "Naquela noite".
Sim, ele gosta muito de você, queridona. Sim, você é demais e ele ri das suas piadas. Sim, a noite foi ótima. Essa noite foi ótima. A próxima... não sabemos.
É verdade, eu deveria prestar menos atenção nas letras das músicas e me concentrar mais nos abdominais. E, em geral, eu consigo fazer isso quando toca Shakira ou Lady Gaga. Meu cérebro automaticamente desliga. Mas essa música foi um achado. Me fez rever tudo o que eu sempre pensei dos homens.
Porque quando eles dizem algo equivalente ao que grandiosíssimo vocalista da banda cantou, quando eles nos elogiam ou falam coisas bonitinhas, eles não estão necessariamente mentindo. É tudo verdade, do fundo do coração.
Essa noite.
Amanhã, é possível que a declaração já tenha expirado.
Então, talvez, o certo - ou no mínimo o justo -, seria que esses nobres homens acrescentassem no final de cada frase fofa o binômio "essa noite". Tipo, "você tá linda... essa noite", "tô gostando de você cada vez mais... essa noite", "fica aqui pra sempre ... essa noite."
Né?
Mas em vez de focar neles, talvez devêssemos pensar em por que as mulheres - ou pelo menos a grande maioria delas - têm tanto problema em conviver com o fato de que algumas coisas duram só uma noite.
Talvez pela velha história de que elas se apegam àquilo que sabem que não podem ter, blá, blá, blá...
Ou simplesmente porque seria legal ouvir que alguém não quer perder nada que você faça. Amanhã também.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Da série: rapidinhas da psicótica


A quem interessar possa, um conselho infalível.

Para ser o objeto de desejo de uma mulher psicótica, o alvo de nossas fixações e estratagemas secretos, não é necessário se esforçar. Tudo o que você precisa fazer é nos rejeitar uma vez. E pronto.

Os petulantes sabem disso. Os idiotas fazem sem saber.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Da série: diálogos hipotéticos


"Hipoteticamente, você se casaria comigo?", ele me perguntou, enquanto assistíamos tevê na sala.
"Como é que é a história?", rebati em tom de deboche.
"Você se casaria comigo, hipoteticamente?", repetiu.
"Se eu me casaria com você?"
"Hipoteticamente."
Eu ri, enquanto meu cérebro fazia um milhão de sinapses involuntárias.
"Não sei", respondi. "Hipoteticamente, o que você teria pra me oferecer?"
"Eu sou mais alto que você, pra começar."
"Ok, é um bom começo. Que mais?"
"Eu vou ter uma carreira promissora. Eventualmente."
"Aham."
"Eu posso ter muito dinheiro. Um dia."
"Bom, bom. Eu poderia me casar por dinheiro."
"Né?"
"As pessoas subestimam a necessidade de se ter muito dinheiro."
"Malditas pessoas."
"Quem disse que não traz felicidade?"
"Com certeza alguém que não tem muito dinheiro."
"Recalcados. Se o dinheiro não traz felicidade, ele manda um voucher."
"Um voucher?"
"É. Se você tem um voucher pra felicidade, você só não é feliz se não quer."
"Voucher pra felicidade não é letra de música sertaneja?"
"Não. Aí seria o primeiro avião. E você não pode pegar o primeiro avião sem ter o voucher."
"Ah, o voucher."
"O voucher."
E continuamos a assistir tevê. Estava passando American Dad e o alienígena da família ia ver um show da Barbra Streisand interpretando Celine Dion.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Momento "My Sister, My Daughter"


Dos mesmos criadores do Momento Frankly My Dear...

...Vem aí...

...O Momento My Sister My Daughter.

Diretamente do clássico de 1974, "Chinatown", a cena abaixo mostra a revelação da personagem de Faye Dunaway sobre sua irmã. Ou seria sua filha? Sua irmã, sua filha, sua irmã, sua filha...

Dedicado a todos os indecisos que nos atormentam.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Equação à trois


No último dia de 2010, eu saí pra almoçar com uma amiga de infância que eu já não via há algum tempo. Engraçado porque quando nós éramos crianças, 2011 soava como um futuro muito distante, com naves e telefones que faziam ligações de vídeo. No caso, só faltam as naves.
Mas o fato é que a minha amiga vai casar. A menina com quem eu brincava de Barbie e via "A Pequena Sereia" repetidas vezes. Ela vai por um vestido branco e vai casar. Ela mesma, não uma boneca loura de peitos sem mamilos ou uma sereia ruiva com sutiã de conchas. Está acontecendo de verdade, estamos ficando velhas e casando. Quer dizer, ela está. Eu continuo na mesma, só não brinco mais de Barbie.
Já a minha amiga, vai ter uma bonequinha dela mesma no bolo - se é que as pessoas realmente fazem isso, eu não entendo nada de casamento. Nunca me apeteceu. Só que naquele almoço, não sei o que houve, acho que fui possuída. Minha amiga começou a falar de uns vestidos que eram a minha cara e quando dei por mim já estávamos falando de um casamento pequeno para não mais de cem pessoas.
"Amanda, eu nem tenho namorado", eu disse, pondo fim àquela loucura.
"Mas você tá saindo com alguém?"
"Sim, mas daí até o casamento pequeno para não mais de cem pessoas..."
"Sabe o que você faz? Sai com vários ao mesmo tempo!"
Fiquei encarando minha amiga de infância por alguns segundos, ainda perplexa com aquele comentário. Especialmente vindo dela, uma menina tão doce e de fala tranquila.
"É, de fato tem um outro cara...", lembrei.
"Então! Sai com ele também! Sai com todo mundo!"
"Aí também não, eu tenho princípios."
"Todo mundo é modo de dizer. Mas começa saindo com esses dois."
"Que que é isso? Desespero?"
"Não, pelo contrário. Você fica bem mais leve quando não se fixa num cara só", ela argumentou. O que é bastante irônico para alguém que vai se casar em seis meses.
Então fiz uma breve retrospectiva mental de todos os caras com quem já saí. E a conclusão foi óbvia. Sair com um cara só nunca me trouxe benefícios, muito pelo contrário. De repente tá na hora de testar o outro lado da moeda. Afinal, os homens fazem isso o tempo todo.
"O tempo todo!", confirmou minha amiga.
Mas a verdade é que eu não sei se eu seria capaz. Não pela parte moral da coisa, mas pela logística mesmo. Eu não sou como a maioria das mulheres que consegue falar no telefone, cozinhar e escrever uma tese de mestrado ao mesmo tempo. Quando eu tô no telefone e alguém fica do meu lado fazendo sinais, eu fico extremamente confusa. Que dirá administrar dois homens!
"Você aprende", ela me encorajou.
Só que a questão é bem mais complexa do que parece. Porque eu trabalho de uma maneira organizada, ao menos na vida afetiva. Tem toda aquela coisa dos primeiros encontros, a calcinha certa, os tempos entre cada depilação. Aí se você adiciona um homem extra na equação, fica tudo bagunçado. E eu me sinto falando no telefone com alguém do meu lado fazendo sinais.
Por exemplo, se eu resolvo dar pra um e pro outro ainda não. Como é isso? Não consigo equalizar. Ou eu tô no modo "dando" ou não. E os dias de folga masculina, em que eu posso esquecer de depilar as axilas? E se eu tiver uma observação engraçadinha e sagaz? Eu conto pra quem? Pros dois? Eu vou ser uma daquelas pessoas que repetem observações engraçadinhas e sagazes?
"Não, eu não consigo, eu não consigo!", repeti.
E comecei a falar do meu trabalho.
 
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