natalia

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre o alho poró


Entrei no supermercado decidida a comprar legumes e verduras. "Alho poró", concluí. "Nunca comprei alho poró, vou comprar alho poró", refletia, orgulhosa, enquanto me dirigia à seção de hortifruti, onde tudo é mais verde que uma mala cheia de dólares.
Chegando lá, me deparei com um empecilho. Não conseguia encontrar o alho poró em meio a tanta variedade de artigos monocromáticos. Foi quando pedi ajuda a um dos funcionários do supermercado.
"Por favor, você saberia me informar se tem alho poró?", perguntei, excessivamente formal, como devem ser as pessoas que se alimentam de alho poró.
"Ali", ele respondeu, com o que seria o oposto da minha postura. Creio que ele chegou a assoar o nariz, logo após enunciar algo que variava entre uma localização geográfica e um nome muçulmano.
"Onde exatamente?", tornei a perguntar.
"Bem ali".
Eu virei para olhar o que deveria ser bem ali, mas não consegui identificar o objeto da minha busca. Foi quando o funcionário perguntou, num tom quase debochado:
"A senhora sabe o que é um alho poró?".
Que insulto. Especialmente pela forma como ele falou a palavra "sabe". Uma ênfase que pontuava a minha total ignorância em relação a um assunto que eu me esforçava tanto para aparentar ter domínio.
claro que eu sei o que é um alho poró", retruquei, dando a mesma intensidade à palavra "claro" que ele havia dado a "sabe". E prossegui: "Eu já vi várias vezes um alho poró... picado no meu prato... num restaurante", disse, segurando o artigo em uma das minhas mãos.
"Ah, é?", questionou o funcionário. "Então por que você tá segurando um rabanete?"
Fiquei muda por alguns instantes.
"Porque foi isso que eu vim comprar", concluí, dirigindo-me ao caixa.
Nesse dia eu não comprei alho poró.
 
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