natalia

segunda-feira, 26 de março de 2012

One is the loneliest number


Eu sei que deveria ser mais grata por tudo que a vida tem me dado, mas quer saber? A vida é uma cadela manca e raivosa. E se eu consegui alguma coisa até hoje foi porque tive que brigar muito pra tirar o naco de carne dos dentes dela.
Eu não estou feliz. Mentira. Não estar parte do pressuposto de que algum dia eu já estive. E nunca houve esse dia. Pelo menos não um dia inteiro. Talvez algumas poucas horas. Mas como vocês já sabem, a vida é uma cadela.
Amanhã eu faço vinte e sete anos, estou atulhada de trabalho até o pescoço e sem absolutamente nenhuma vontade de comemorar. O que eu realmente queria fazer amanhã? Me teletransportar para um lugar bem longe, onde as pessoas saem na rua usando chapéu. Sem ser o México, tá? Eu ficaria ridícula de sombrero. Ou qualquer lugar sob o domínio do Taliban. Eles não têm muito senso estético para o design de chapéus. Vamos nos restringir aos países da Europa. A parte cinematográfica e chique da Europa.
Eu iria a Paris agora, não fosse pelo pequeno inconveniente de ter cinco projetos em andamento. Eu tenho cinco malditos projetos em andamento e nenhum convite para sair no fim de semana. Cinco raios de projetos em andamento e nenhum homem na minha cama.
Não me levem a mal, eu sei que minha cama é super frequentável. Eu sou super frequentável. O problema é esse resquício de crença que eu tenho nessa porcaria de - eu não acredito que vou dizer isso - amor. É um saco ter que admitir, mas eu espero encontrar alguém.
E quem é alguém? Alguém é uma entidade mitológica, que costuma aparecer algumas - poucas - vezes na vida de cada ser humano. Alguém pode estar em qualquer lugar, onde você menos imagina, inclusive aí do seu lado. Mas não adianta procurar muito, porque reza a lenda que alguém só aparece quando você menos espera. As histórias são muitas. Ouvi dizer que se você gritar "alguém" três vezes na frente do espelho, ele aparece e se casa com a sua melhor amiga.
Mas mesmo sabendo que essa pessoa mitológica não existe, eu me recuso a desapegar do conceito. Porque, apesar daquilo que eu finjo ser na maior parte do tempo, apesar do discurso cínico que eu costumo dar sobre a impossibilidade dos relacionamentos, eu continuo com os dedos cruzados, torcendo pelo dia em que alguém vai aparecer e me provar que eu estava errada.
Amanhã eu faço vinte e sete anos e tenho cinco projetos em andamento. São bons números, eu deveria querer comemorar. Mas a vida é uma cadela. E eu não estou feliz. Porque quando eu fecho os olhos e imagino o futuro, eu vejo a França, vejo chapéus, vejo projetos em andamento e quem sabe algumas horas felizes. Mas também vejo um número solitário que irá me acompanhar ao longo dos fins de semana, da mesa do restaurante até a minha cama.
Paciência. Talvez alguém seja ocupado demais para aparecer na vida de todos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Só se for bengay

Porque certas coisas nunca saem de moda.









E a minha preferida, é claro:

domingo, 11 de março de 2012

Old style


A loja está em liquidação. Todas as peças com 80% de desconto. A mulherada avança ensandecida em direção às araras, enquanto eu flerto graciosamente com um vestido que repousa, lânguido, sobre um dos cabides. Vou até ele, tentando não demonstrar a ansiedade que me consome - mas, principalmente, tentando não chamar muito a atenção das outras mulheres -, e inicio o contato físico. Minha pele aprova. A atração é inegável e não me resta outra saída senão sucumbir aos meus desejos. É quando ouço em minha mente um som de disco arranhando.
"Esse vestido é da coleção nova", avisa a vendedora, vaca quebradora de clima.
Se você chegou neste ponto do texto e vem a ser um homem heterossexual, eu explico. "Coleção nova" não significa apenas que o vestido não está com 80% de desconto. Significa que ele custa uns 80% a mais do que o preço considerado razoável. Significa que você foi vítima da pegadinha mais clássica da queima de estoque: se apaixonar pela roupa errada.
Eu sempre faço isso. Me coloca numa sala com trezentos vestidos e eu só vou olhar para aquele está além do meu orçamento. Transponha essa situação para a vida afetiva e voilà. Temos aí o cerne da minha infelicidade no amor.
Mas não é que eu escolha errado. As roupas da coleção nova são ótimas e vestem bem. Só que geralmente custam caro. É como se o preço que pagamos por elas estivesse associado ao capricho de possuirmos algo difícil. Queremos conquistar mais do que uma mera peça em liquidação. Queremos algo especial.
Pelo que me lembro, nunca me apeguei a homens em ponta de estoque. Aqueles rodados, que circulam por vários corpinhos, dos gorduchos aos mais sarados, sem nunca encontrar quem lhes vista bem. Eu gosto das peças únicas, que você bate o olho e sabe logo que são diferentes. Aquelas que você tem tanta certeza de que vão dar certo que poderia levar para casa sem nem experimentar.
O problema é que os homens da coleção nova são superestimados. E aquele encantamento inicial da loja se dissipa nas primeiras falhas que você encontra na costura. Ou quando repara em um corte equivocado na manga. Alguns desbotam na lavagem, outros deixam manchas no restante das roupas. Assim, o investimento na conquista de alguém que consideramos ser uma peça especial nem sempre vale a pena.
É por isso que há tempos não faço compras. Não chego a dizer que é por medo de me decepcionar com os vestidos que se encontram por aí nas araras. É mais por preguiça de experimentar à toa. Por cansaço mesmo.
Na falta de tempo e de paciência, talvez valha mais a pena sair carregando vários com 80% de desconto. Pelo menos assim não criamos expectativas. Sabemos que o material não é de qualidade e que não vai durar.
Sem querer ser saudosista, ainda mais de uma época que eu não vivi, mas o fato é que não se fazem mais roupas como antigamente. E apesar dos sombrios tempos da descartabilidade, na moda e no amor, eu sigo old style.

 
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