natalia

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cinema sozinha no sábado à tarde - parte final


Nos posts anteriores de Adorável Psicose:

Depois de uma longa deliberação comigo mesma, decidi que não tinha problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde.

Foi quando um homem surgiu do nada, entrou na minha frente e pediu para a balconista um Chokito. O meu Chokito.

"Natalia!", alguém me chamou. Era o cara com quem eu costumava sair há alguns meses. [...] "Essa é Carla, minha namorada."

"Eu vim com o meu namorado", eu disse, e engoli no seco. [...] "É aquele ali", e apontei para o homem que terminava de comer Chokito. Meu Chokito. [...] Fui direta e disse que se ele seguisse exatamente o meu plano, eu lhe compraria dez caixas de Chokito. "Vinte", ele corrigiu. "E você me deixa pegar nos seus peitos."

***
"Guten Tag!", disse Carla, tentando ser simpática com o Johannes, meu suposto namorado austríaco. Johannes, por sua vez, permaneceu calado. "Wie geht's?" ela insistiu.
Com muito medo do que aconteceria dali em diante, eu virei lentamente o rosto para o falso austríaco à espera de alguma resposta — ao que ele, muito sério, disse apenas: "nein, nein."
Sem entender a reação de Johannes, Carla insistiu: "Angenehm!"
"Nein, nein", ele tornou a responder, bastante seguro.
"Ele não deve estar entendendo por causa do seu sotaque", justifiquei, após um certo silêncio.
"Impossível", rebateu Carla, "minha família é alemã, meu sotaque é perfeito."
"É mesmo?", questionei, cruzando os braços.
"Sim, meu nome é Carla Braun."
"É mesmo?", perguntei de novo, duvidando dos meus próprios ouvidos. "Braun? Carla Braun?", repeti, dessa vez olhando para o namorado dela. "Você parou de sair comigo e começou a namorar uma nazista?"
"Mein Führer?", interrompeu Johannes.
"Natalia!", o outro me repreendeu. "Isso que você falou é extremamente preconceituoso!"
"Desculpe, eu não quis ofender", disse, tentando me redimir. "Qual é o nome da sua avó?"
"Gretel", respondeu Carla.
"Ah, é? E o da sua bisavó?"
"Chega, Natalia", ele reclamou novamente.
"Não que isso seja relevante, mas eu sei o que a sua namorada pede quando vai na depilação."
Então eles me devolveram a pipoca e o refrigerante, pondo fim àquela conversa agradável.
"Você precisa parar de julgar as pessoas", ele disse.
"Como assim, que ridículo, eu não julgo as pessoas", disse, desviando o olhar para uma breve retrospectiva.

Breve retrospectiva:

"Que porra é essa? Homem meu não usa bolsinha!"

"Ele é feio, né, mãe?"

"Téo e Andy? Como assim Téo e Andy? É uma festinha gay?"

"Ele é um daqueles caras que acham as coisas mó astral, não é?"

“Preconceituosa, eu? De jeito nenhum. Não tenho nada contra os gordos, eu só torço pelos mais fracos. No caso, a comida.”


Fim da retrospectiva.

"Ok, talvez eu julgue um pouco", admiti, enquanto os três me encaravam. "Tá, tá bom, eu julgo bastante", concluí. "Foi por isso que você me trocou pela nazista?"
Ele riu e segurou a mão dela, como fazia comigo quando outra garota conversava com ele na minha frente. Me senti esfaqueada mais uma vez, ouvindo a trilha de Psicose. Eu era a outra garota e a Carla era a pessoa com quem ele estava. Fiquei sem ar por alguns instantes e não lembro muito bem o que disse quando eles se despediram.
Mas ao vê-la de costas, indo embora, não pude deixar de perguntar ao Johannes: "ela é mais bonita que eu?"
"Por quê? Eu posso pegar nos peitos dela?"
"Não", respondi, levemente enojada, mas também ofendida por ter meus peitos rejeitados.
"Então tá", ele disse, já com as mãos espalmadas, vindo em minha direção.
"Ei, ei, pera aí! Vamos combinar as regras. Cinco segundos e só pode pegar em um peito."
"Tá, o maior, então."
"Do que você tá falando, meu filho? Meus peitos são perfeitamente simétricos", rebati, ao que ele me encarou descrente. "Tá, o esquerdo."
Mas ele nem se deu bem. O esquerdo é o menor. Otário.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cinema sozinha no sábado à tarde - parte 2


Nos posts anteriores de Adorável Psicose:

"Está procurando presente pro dia dos namorados?"
"Sim. Estou."
"Qual o nome dele?"
"Z-Zingo."
"Você não tem namorado, né?"

*
"Você está aqui sozinha?", perguntou [o homem].
"Eu tenho amigos. E talvez até mesmo um namorado. Você não pode provar o contrário."
"Tanto faz, eu só quero o meu Chokito."
"Meu Chokito."
"Deixa ela ficar com o Chokito", pediu a balconista. "Ela veio sozinha ao cinema."

***
Após o incidente no balcão, decidi que o melhor era evitar qualquer tipo de interação humana e entrar de uma vez na sala de cinema. E segui para a fila, com as duas mãos ocupadas, levando pipoca e refrigerante, ambos gigantes.
Não existe problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde, mentalizava, quando lembrei que tinha deixado o ingresso na bolsa e tive o instinto natural de entregar a pipoca para alguém segurar, exceto pelo fato de que não havia ninguém comigo, o que me deixou deprimida.
"Natalia!", alguém me chamou. Era o cara com quem eu costumava sair há alguns meses. E de quem eu gostava bastante, e que também dizia gostar muito de mim, mas. As razões do mas são sempre variações em cima do mesmo tema: não posso me envolver no momento, não estou pronto, acabei de sair de um relacionamento, sou um alien do futuro, essas coisas.
Mas para ser bem sincera, minha primeira reação ao reencontrá-lo foi entregar o saco de pipoca e procurar meu ingresso dentro da bolsa. Foi quando uma moça razoavelmente bonita chegou e parou ao lado dele, de modo que eu desejei me jogar dentro daquela bolsa e nunca mais sair.
"Essa é Carla, minha namorada."
As palavras saíram como facas e eu me senti a própria Janet Leigh, atacada no chuveiro, de surpresa. Sem saber o que responder, fiz o que me pareceu mais prudente.
"Oi, Carla. Dá pra segurar esse copo rapidinho?", e entreguei o refrigerante. "Perdi meu ingresso."
A ideia foi estúpida, porque agora sim é que eu estava presa a eles e àquela situação horrivelmente desconfortável, que só poderia ser comparada a um prisioneiro na Idade Média, acorrentado naquelas rodas de tortura. Um braço preso à pipoca, o outro ao refrigerante; e eu ali, pronta para rodar.
"Então você está namorando?", perguntei, forjando um sorriso medonho. "Que bom... pra você", concluí, dando um soquinho no ombro da Carla. "Há quanto tempo?"
"Pouco tempo", ele respondeu, nervoso.
"Cinco meses", disse Carla, sem nenhuma culpa.
"Cinco meses? Você está namorando há cinco meses?", repeti. "É engraçado, porque a gente saía há cinco meses. Mas, enfim, eu espero que dê tudo certo pra vocês, de verdade."
NOT,
pensei.
"Você tá sozinha?", ele perguntou, querendo mudar de assunto.
"Claro que não. Eu tô saindo com várias pessoas."
"Eu quis dizer aqui, no cinema. Você veio sozinha?"
"Que tipo de pessoa vai ao cinema sozinha? Eu vim com o meu namorado", e engoli no seco.
"Então você tá namorando?", ele quis saber.
"Ué, por que a surpresa? Você acha que é o único que consegue?"
"E cadê esse sujeito sortudo?", ele perguntou, enquanto eu rastreava o local, na esperança de encontrar alguém conhecido que se prestasse a tal papel. Mas na falta dessa pessoa, fiz o que me pareceu mais prudente.
"É aquele ali", e apontei para o homem que terminava de comer Chokito. Meu Chokito.
"Qual é o nome dele?"
"Zingo."
"Oi?"
"Jonas", corrigi. "Aqui, amor!", gritei, ao que o suposto Jonas me respondeu levantando o dedo do meio.
Silêncio.
"Fazer o quê?", eu disse. "Ele sabe do que eu gosto."
"Ele parece ótimo", a Carla comentou.
"Ele é. Eu nem vou apresentar porque ele não fala português. O Johannes é austríaco."
"Eu falo um pouco de alemão", rebateu Carla.
"Claro que você fala", respondi, sem muito entusiasmo.
Então eu pedi um instante e fui falar com o Johannes. Fui direta e disse que se ele seguisse exatamente o meu plano, eu lhe compraria dez caixas de Chokito.
"Vinte", ele corrigiu. "E você me deixa pegar nos seus peitos."
"Quê?"
"Uma vez só."
Revirei os olhos e aceitei a proposta.

(continua...)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cinema sozinha no sábado à tarde - parte 1


Depois de uma longa deliberação comigo mesma, decidi que não tinha problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde. Se fosse no domingo, tudo bem, seria deprimente. Mas ir ao cinema sozinha no sábado à tarde ainda é uma prática socialmente aceita. Ninguém iria me julgar. É claro que eu tinha amigos e talvez até mesmo um namorado. Acontece que naquela tarde, especificamente, eu tinha optado por ir ao cinema sozinha. Coisa de impulso mesmo, que só as pessoas legais e despojadas fazem. Não que eu seja uma delas, mas ninguém poderia provar o contrário.
Então vesti uma roupa que considerei ser digna e fui até o cinema mais perto de você - no caso, mais perto de mim, porque eu não preciso de você; não existe problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde.
Pelo menos era o que eu repetia para mim mesma na fila da pipoca, quando a balconista perguntou se eu queria mais alguma coisa e eu resolvi que sim, que eu queria um Chokito, o último que restava no balcão. Não sei bem por que eu tomei tal decisão, eu nem gosto de Chokito tanto assim, e todas as vezes que eu comprei um, ele tinha gosto de chocolate velho. Mas, por alguma razão, eu tive uma certa pena daquele único exemplar abandonado, sozinho, avulso.
Foi quando um homem surgiu do nada, entrou na minha frente e pediu para a balconista um Chokito. O meu Chokito.
"Desculpa", eu disse, tentando ser educada, "mas tem uma fila aqui."
"Eu sei", ele respondeu, "eu só tinha ido ali rapidinho, uma senhora estava guardando meu lugar."
"Que senhora? Não tem nenhuma senhora aqui."
"Pois é, ela estava na sua frente, eu vi quando ela saiu e vim correndo."
"Devia ter corrido mais", rebati, desviando o olhar.
"Olha só, eu estava na fila, a moça do balcão viu, não viu?", o homem perguntou. E, de fato, a moça parecia concordar com o que ele dizia, embora não quisesse deixar clara a sua opinião, permanecendo calada.
"Vamos resolver isso rápido, eu só quero o Chokito", ele argumentou.
"Eu também!", respondi, desmerecendo o argumento.
"Não quer não, você nem tinha pedido."
"Eu estava a ponto de pedir."
"A ponto de pedir não é pedir. Para pedir você precisa falar em voz alta e a outra pessoa tem que escutar."
"Tá, obrigada, Dicionário. E a definição de furar fila, você sabe qual é?"
"Eu já disse que estava na fila, eu só tinha ido ali um instante", ele contestou.
"Bom, ir ali não é estar na fila, né?", respondi, deleitando-me. Então ele ficou em silêncio, analisando a situação.
"Você está aqui sozinha?", perguntou.
"Como assim? O que isso tem a ver?"
"Então você está aqui sozinha", constatou, de um jeito arrogante que me deixou desestabilizada.
"Eu tenho amigos. E talvez até mesmo um namorado. Você não pode provar o contrário."
"Tanto faz, eu só quero o meu Chokito."
"Meu Chokito."
"Deixa ela ficar com o Chokito", pediu a balconista. "Ela veio sozinha ao cinema."
"Quê? Não!", respondi, ultrajada. "Eu optei por vir sozinha ao cinema. Eu sou legal e despojada."
"Claro que você é", ela disse, enquanto me passava o Chokito.
"Não! Eu não vou aceitar esse Chokito da piedade!"
"Ótimo, então me dá", o homem interrompeu, tirando o chocolate da minha mão.
"Ei!", reclamei.
"Você disse que não ia aceitar."
"É óbvio que eu ia aceitar, eu só estava dizendo aquilo pra manter minha dignidade."
Então ele me olhou com um sorriso petulante, abriu o Chokito e deu uma mordida, bem na minha frente.
"Babacadizquê!", eu disse, bem rápido.
"Quê?"
"Ha! Babaca!", e saí, com minha dignidade intacta. Ou quase isso.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Diálogos Psicóticos


"Então eu não posso gostar de você como pessoa?"
"Não, não pode. É a lei."
"Mas você não é uma pessoa?", ele perguntou, cheio de sarcasmo. Tive vontade de beijá-lo, mas resisti e respondi que sim, eu era uma pessoa.
"Eu posso gostar de você como árvore, se preferir."
Dessa vez não tive vontade de fazer nada, apenas o encarei, séria.
"É como se você entrasse numa loja de chocolate", comecei, "procurasse uma caixa de bombons, achasse bonita, provasse alguns e depois dissesse 'olha, eu não vou levar não, mas fique sabendo que gosto muito desses bombons... como chocolate.'"
Silêncio.
"Não é a mesma coisa", ele afirmou, depois de ter pensado um pouco a respeito.
"Claro que é! Que diferença faz se você achou o bombom bonito, gostoso, inteligente, engraçado, legal? Chega a ser irritante!", gritei. "Pro bombom, é claro..."
"Natalia..."
"Não. Você não escolheu o bombom. Você não me escolheu. Agora respeite a lei, e saia desta loja."
"Quê?"
"É uma metáfora..."
"Ah, sim."

Da série: Estatuto da Psicótica


Art. 1º - Nunca se atreva a dizer que gosta de mim como pessoa.

Você não tem esse direito.

E, cá entre nós, é bem cafona.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ode ao bloqueio - parte 2 (Ele voltou, e dessa vez é pessoal)


Prezado usuário,

Quando você bloqueia alguém no Facebook, essa pessoa não deixará de existir. Não vai abandonar seus pensamentos nem vai desaparecer das suas lembranças (tais como aquele dia em que você falou para ele não bagunçar seu cabelo, mas ele bagunçou mesmo assim e depois disse que era impossível não se apaixonar por você).
Todo laço que antes você mantinha com aquela pessoa, seus sentimentos, suas expectativas, tudo será perdido.
Note que tal bloqueio não pode impedir todas as comunicações e interações na vida. O Facebook não se responsabiliza caso você encontre essa pessoa no supermercado ou na livraria. Nem muito menos se ela estiver acompanhada de outra pessoa. Mais ou menos bonita que você.

Atenciosamente,
Equipe Facebook.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pequena ode ao bloqueio (a.k.a. Não fui eu, foi meu eu lírico) (a.k.a. Quem ama bloqueia)


Quando você bloqueia alguém
no Facebook,
esta pessoa não poderá mais procurá-lo,
ver seu perfil nem interagir com você por meio dos canais
do Facebook
(tais como mensagens de mural, cutucadas e outros).
Todo laço que antes você mantinha com aquela pessoa
no Facebook,
por exemplo, conexões de amizade e relacionamentos,
tudo será perdido.
Note que tal bloqueio não pode impedir todas
as comunicações e interações nos aplicativos de terceiros
nem pode estender-se
por toda a Web.

domingo, 13 de junho de 2010

No telefone com Diogo Cunha ou "Minha vontade de excelência não pode superar minha capacidade de realização" (Winston Churchill)


Estou há uns dois meses praticamente reclusa em um cárcere privado, diante de um computador, com a tarefa nada simples de terminar um livro. Eu digo nada simples agora, mas há dois meses, quando me perguntaram se eu conseguiria cumprir tal prazo, eu disse que sim, sim, claro, moleza.
Mas a verdade é que escrever é uma das profissões mais solitárias que existem. E a todo momento você precisa tomar uma série de decisões, a cada palavra que você usa, a cada novo parágrafo. Pra onde sua história está indo? Será esse o melhor caminho? Por que você não volta e reescreve tudo, que essa porra está uma merda?
E tudo isso sozinho.
Para me manter minimamente lúcida, estabeleci uma espécie de relação simbiótica com um amigo que também está trancafiado em sua casa terminando uma tese. E foi durante uma de nossas conversas pelo telofone que ele soltou, sem nenhuma intenção de cunhar uma bela frase, que sua vontade de excelência não podia superar sua capacidade de realização.
Fiquei em silêncio por alguns instantes, absorvendo o significado daquela sentença e depois voltei ao mundo pragmático.
"É uma bela frase", elogiei. "Posso colocar entre aspas no meu Facebook e dizer que é do Mahatma Gandhi?"
Ele pensou um pouco e sugeriu que eu escolhesse uma personalidade menos óbvia. E talvez menos interessante, de modo que o leitor não se motivasse a pesquisar a procedência da citação.
"Coloca Winston Churchill", propôs. "Ninguém vai questionar a autoria de uma frase do Winston Churchill. Ou do Abraham Lincoln."
"Mas precisa ser alguém tão monótono? Será que eu não posso colocar, sei lá, Santos Dumont?"
"Melhor não colocar brasileiro. As pessoas aceitam mais quando a citação é estrangeira. Inclusive, se você passar pra inglês é capaz até de virar spam."
"E Hitler?"
"Hitler funciona."
Mas logo depois chegamos à conclusão de que isso afetaria um pouco o apelo da frase. Sem contar que daria um outro sentido à vontade de excelência e à capacidade de realização.
"Que difícil", constatei. "A quem você atribuiria uma frase dessas? Quer dizer, tem a ver com que área? É um diretor de cinema, um pintor, um filósofo?"
"
Eu acho que é a típica frase de alguém que trabalha com direitos humanos."
"Uhh, posso colocar Nelson Mandela?"
"Acho válido pela questão da Copa, mas já falei que é melhor não usar líderes carismáticos."
"Já sei!", concluí. "E se a gente inventasse um nome?"
"Boa! Começa com uma sigla, pra ficar mais obscuro."
"JJ...", pensava em voz alta, "...Abrams?"
"J.J. Abrams? Esse não é o nome do criador de Lost?
"Droga!"
Silêncio.
"Você pode colocar anônimo", meu amigo sugeriu, por fim.
"Tá maluco? Ninguém se importa com frases proferidas por anônimos. Anônimo por anônimo, melhor dizer logo que foi você."
"Então faz isso."
Silêncio.
"Pensando melhor, Winston Churchill não me parece tão monótono assim..."
"A gente devia voltar a escrever, você não acha?"
"É, é. Deixa só eu atualizar meu status no Facebook..."

sábado, 12 de junho de 2010

Feliz dia dos namorados... NOT!

Meu presente pra vocês: minha cena preferida de "Antes do pôr-do-sol".

"I'm just happy to see you, even if you've become an angry manic depressive activist."

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Rapidinhas da Psicótica


"Sinto falta daquela época em que eu saía toda noite com os meus amigos, a gente ficava dançando até umas seis da manhã, eu pegava vários caras gatinhos...", recordava, saudosa, diante do meu analista.
"E nessa época você era feliz?", ele perguntou.
"Não, claro que não. Mas pelo menos eu não era a única!", rebati. "Agora todos eles estão namorando e passam o final de semana com os seus respectivos. Tenho saudade dos tempos em que éramos todos infelizes."

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quando eu crescer, quero ser igual a você

Uma vez eu postei aqui um trechinho engraçado de uma entrevista com a Tina Fey e hoje eu achei a entrevista completa.

Divirtam-se, ela é ótima!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Psicose nossa de cada dia


Gayxorcismo - parte 2

Nos posts anteriores de Adorável Psicose:

"Você vai adorar o Téo e o Andy", disse minha amiga.
"Como assim Téo e Andy?", perguntei, nervosa. "Se eu soubesse que era uma festinha gay, eu jamais teria vindo de calça jeans e uma blusinha qualquer!"
"Relaxa. Ninguém vai te julgar."
"ELES VÃO ME GAYXORCIZAR!"

***
Minha amiga tocou a campainha, visivelmente arrependida de ter me convidado. Quando o Andy abriu a porta, os vizinhos do sétimo andar, assim como eu, devem ter todos se assustado com os gritos, que ecoaram agudos pelo corredor.
"Entrem, entrem", disse Andy, praticamente nos empurrando para dentro de sua festinha gay.
"Não sabia que você vinha com uma...amiga", comentou, cheio de malícia.
"Ela não é minha amiga", eu e ela dissemos ao mesmo tempo, constrangidas só de pensar naquela hipótese.
"Qual é o nome dela?", ele perguntou, como se eu nem estivesse ali ou como se eu fosse uma criança absorta com um ioiô.
"Oi, desculpa, ela sabe responder perguntas, tá?", rebati, enquanto Andy e a minha amiga me olhavam chocados com a suposta grosseria.
Percebendo que eu havia iniciado com o pé esquerdo (expressão que devia ser bem inconveniente no caso daquele pintor do My Left Foot, tipo, o cara não tinha outra opção), quando o Andy me perguntou diretamente qual era o meu nome, eu disse o que me pareceu mais prudente no momento.
"Barbra Streisand."
"Quê?", sussurrou minha amiga.
"Bárbara Streisand? O nome dela é Bárbara Streisand?', Andy indagou, descrente.
"Não foi de propósito. Minha mãe gostava muito desse nome e meu pai se chama Enio Streisand", expliquei, estranhamente segura do que estava falando.
Minha amiga não dizia nada, apenas me olhava abismada. O que mais eu podia fazer? Eu queria que eles gostassem de mim.
"No waaay!", disse Andy, da maneira mais gay que você puder imaginar. "Me mostra sua identidade agora!"
"Ha, no waaay!", repeti, na mesma entonação dele. "Minha foto está ridícula, eu pareço uma pessoa dos anos 50, mas não de um jeito legal."
"Téo!", gritou Andy no meio da sala, repleta de bibas estilosíssimas, prontas para me gayxorcizar a qualquer momento. "Vem cá ver isso! O nome dela é Bárbara Streisand!"
Pronto. Foi ele dizer isso e a bicharada toda se voltou pra mim.
"Adoreeei", soltou Téo, da maneira mais gay que você puder imaginar. "Você tem que ir com a gente pra Lapa mais tarde."
Lapa, pra quem não sabe, é o lugar mais insuportável para se ir à noite no Rio. É o próprio inferno!
"Na verdade, é pior que o inferno", eu retifiquei. "Quando as pessoas morrem e rola todo aquele julgamento, os bons vão pro céu, os ruins vão pro inferno e os ruins pra caralho ressuscitam e vão pra Lapa", finalizei, enquanto todos na festinha riam. Riam comigo, não de mim.
Gostei da brincadeira e prossegui com o showzinho. Ao ver o número 69 estampado na camiseta apertadinha de um dos rapazes, não me contive.
"Não sei vocês, mas eu não sou exatamente fã do meia nove não. É muita informação, eu fico confusa. E dali a pouco eu começo a ver a cena de fora e penso: gente, o que vocês tão fazendo? Que coisa mais selvagem."
Eles riram. E eu prossegui.
"Não há nada mais civilizado do que o conceito de 'cada um na sua vez'. Por isso inventaram a fila! A fila é a celebração da ideia de que cada um deve fazer as coisas na sua vez. Imagina como seria se você usasse o caixa eletrônico ao mesmo tempo que outra pessoa...'Você deposita e eu saco'. Não dá! E no banheiro? 'Você usa a privada e eu o bidê, ao mesmo tempo'. Não tem como isso funcionar. Então por que fazer isso na cama? Vamos ser civilizados. Cada um na sua vez. Mas só pra garantir, você começa."
Então eles aplaudiram e eu percebi que a única maneira de evitar o gayxorcismo é ser uma comediante de stand-up chamada Barbra Streisand.


DON'T RAIN ON MY (GAY) PARADE, Barbra Streisand

terça-feira, 8 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Psicose nossa de cada dia


Gayxorcismo (leia-se gayzorcismo)

Era sábado, nove e meia da noite, e eu já estava de pijamas. Devia estar com uma cara tão péssima que até o entregador da Domino's me olhou com uma certa piedade. Foi quando uma amiga ligou e me chamou para uma festinha light na casa de uns amigos.
Sem muita disposição para me arrumar, apenas perguntei: "vai ter alguém interessante?", mas deduzi que não pelo tempo que ela passou fazendo "mmmm" antes de responder que "nunca se sabe". Nunca se sabe o cacete. Sempre se sabe: nessas festinhas só tem casalzinho, gay, casalzinho gay e gente estranha.
Mas coloquei uma calça jeans, uma blusinha qualquer, prendi o cabelo e enfiei-me num táxi. Foi apenas no elevador, a caminho do apartamento dos tais amigos, que eu descobri a verdade sobre a festinha.
"Você vai adorar o Téo e o Andy", disse minha amiga, enquanto eu sentia meu coração parar de bater.
"Téo e Andy? Como assim Téo e Andy?", perguntei, nervosa. "É uma festinha gay?"
"É, ué!", ela respondeu, com a maior naturalidade, saindo do elevador.
"Como é que você me chama para uma festinha gay e não me avisa?"
"Eu, hein, Natalia. Não achei que isso seria um problema!"
"Mas é claro que é um problema! Se eu soubesse que era uma festinha gay, eu jamais teria vindo de calça jeans e uma blusinha qualquer!"
"Relaxa. Ninguém vai te julgar."
"Tá brincando? Se eu entrar assim, com esse cabelo preso que eu não lavo há dois dias e essa cara péssima, já era! Eles vão me gayxorcizar."
"Eles vão o quê?"
"Me gayxorcizar."
"Gayxorcizar? Isso nem é uma palavra!"
"Eu não me preparei pra entrar aí! Eu não assisti Glee! Eu não sei nada sobre o casal gay do Modern Family!"
"Você tem ideia do quanto está sendo preconceituosa?"
"ELES VÃO ME GAYXORCIZAR!"
"Eles não vão te gayxorcizar!"
"Olha pra você. Já foi gayxorcizada tantas vezes que perdeu a referência."
"Já chega, Natalia! Eles são meus amigos e são pessoas ótimas! Agora se controla e toca essa campainha, antes que eu me arrependa de ter trazido você aqui!"
E tendo dito isso, uma moça de beleza razoável, porém visivelmente abalada, saiu pela porta da frente do apartamento. Num movimento ágil, ela fechou a porta e respirou algumas vezes, tentando se controlar.
"Preciso queimar meu guarda-roupa inteiro", ela disse, com o olhar vidrado, e saiu correndo pelas escadas.
Aproveitei cada segundo daquele silêncio constrangedor e, quando julguei ser o momento apropriado, concluí meu raciocínio com apenas uma palavra.
"Gayxorcismo."

(continua...)

sábado, 5 de junho de 2010

Da série: diálogos psicóticos (cont.)


Nos posts anteriores de Adorável Psicose:

"NATALIA!", berrou minha mãe pelo celular. "Arrumei um rapaz pra você!"
"Quê, mãe? Como assim?"
"Conheci no avião! Ele é lindo, alto, educado! É argentino!", listou. "Enfim, ele vai te adicionar no Facebook."


***
No dia seguinte, eu liguei pra minha mãe e disse, sem pensar duas vezes:
"Obrigada!"
"Ué, por quê?", ela perguntou.
"POR NADA!", rebati, mal-humorada.
"Que aconteceu? O argentino te adicionou no Facebook?"
"Não, mãe. Ao que parece eu não sou boa o bastante pro seu argentino lindo, alto e educado."
"Ele não te adicionou?", ela questionou, num misto de surpresa e decepção.
"No começo eu fiquei pensando que ele nem devia ter me procurado. Provavemente achou você maluca e deixou pra lá", expliquei. "Mas depois me ocorreu que ele pode muito bem ter entrado no meu perfil e ter decidido ali que não ia me adicionar. Eu consigo ver a cara dele, analisando minhas fotos e torcendo o nariz."
"Mas você nem sabe como é a cara dele."
"Eu tenho imaginação, mãe", argumentei. "Já tomei muitos foras nessa vida, mas você conseguiu me inscrever numa nova modalidade."
"Que modalidade?"
"Como tomar um fora de alguém que você nem conhece", anunciei. "Eu estava na minha, quieta, em paz. E mesmo assim eu consegui levar um toco!"
"Mas você nem estava interessada no menino."
"Não, mãe, eu não estava. Até eu descobrir que ele também não estava interessado em mim. Agora eu estou muito interessada!"
"Vai fazer análise, filha."
"Eu faço análise, mãe."
Silêncio.
"Pra ser bem sincera, acho que ele nem era tão alto assim", minha mãe reconsiderou. "Bem feinho, hein. Vou te dizer, bem feinho."
"Tchau, mãe..."

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Da série: diálogos psicóticos


"NATALIA!", berrou minha mãe pelo celular. Em todos esses anos de telefonia móvel, ela ainda não aprendeu a usar a tecla volume. Por isso é comum os desavisados pensarem que ela está brigando com a pessoa do outro lado da linha. "Arrumei um rapaz pra você!", ela completou, ainda num volume incômodo.
"Quê, mãe? Como assim?"
"UM RAPAZ! EU ARRUMEI UM RAPAZ PRA VOCÊ!", repetiu, torturando meus tímpanos.
"Eu ouvi, mãe. Mas que história é essa?"
"Conheci no avião! Ele é lindo, alto, educado! É argentino!", listou. "Enfim, ele vai te adicionar no Facebook."
"Quê?", perguntei, indignada.
"ELE VAI TE ADICIONAR NO FACEBOOK!", ela berrou.
"Eu ouvi, mãe. Mas por que você deu meu Facebook pra ele?"
"Natalia, ele é alto, educado, advogado. Uma gracinha!"
"Peraí, mãe, uma gracinha? Você não tinha dito que ele era lindo?
"Então! Ele é educado, alto, argentino..."
"Ele é feio, né, mãe?"
"Não, Natalia! Ele é advogado!
"Já entendi, ele é feio pra cacete."
"Ele é advogado e argentino!"
"Mãe, para de repetir advogado e argentino como se fossem coisas boas."
"Ele vai te adicionar no Facebook. Finge que não sabe de nada."
"Como assim, finge que não sabe de nada?"
"Finge que eu não te contei!"
"Não tô entendendo!"
"FINGE QUE EU NÃO TE CONTEI!", repetiu.
"Isso eu entendi, mãe. Eu só queria que a sua ficha caísse!"
"Bom, então vamos esperar. Tô torcendo!"
"Mãe, eu não estou tão desesperada assim."
"Quê?", ela perguntou.
"EU NÃO ESTOU TÃO DESESPERADA ASSIM!", repeti.
"Isso eu entendi, filha. Eu só queria que a sua ficha caísse!"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia dos Namorados - parte 2


Previously on Lovely Psychosis:

"Está procurando presente pro dia dos namorados?"
"Sim. Estou."
"Qual o nome dele?"
"Z-Zingo."
"Você não tem namorado, né?"
"Não, não tenho."
"Você quer ver roupas pra você?"
"Sim, por favor."

***
Então eu fui até a seção feminina e comecei a passear as mãos pelos cabides, sob o olhar atento e intimidador da vendedora. Para evitar contato visual, simulei um interesse acima da média em uma das blusinhas expostas.
"Dessa aí eu também vou ter amarela, branca e nude", disparou. "Mas se eu fosse você experimentava a preta. Preto emagrece."
Não pude deixar de perceber a ironia daquele comentário, já que a vendedora em questão era indiscutivelmente gorda.
"Vou te dar uma dica", ela anunciou. "Tons claros engordam."
"Vou te dar outra. O que engorda é comida", rebati, vendo o semblante simpático dela se desfazer num passe de mágica. "Me traz uma branca, por favor."
"Vou pegar. Tenho certeza de que o Zingo vai achar linda."
"Não fale Zingo nesse tom."
"Que tom?"
"É porque ele é nigeriano, né?"
"Quê?"
"Racista! Ainda vem me dizer que preto emagrece!"
"Do que você está falando? Não existe nenhum Zingo."
"Claro que existe! Em algum lugar, neste exato momento, tem um nigeriano chamado Zingo que adoraria ser meu namorado."
"Tenho certeza disso", afirmou, enquanto ajeitava a sobrancelha só para mostrar a aliança na mão direita.
"Ah, olha só, você tá noiva", constatei em voz alta, enquanto ela sorria, deleitando-se. "Vai casar de vestido preto?", concluí, mas agora só quem sorria era eu.
"Pelo menos o meu noivo não é imaginário."
"Deve ser um sujeito interessantíssimo. Aliás, vocês dois devem formar um casal dos sonhos. Uma pena eu não poder ir ao casamento."
A vendedora engoliu no seco.
"Você ainda vai querer a blusa?"
"Não. Mas eu vou ali na loja ao lado e comprar cinquenta iguaizinhas. Depois vou passar aqui com as sacolas, igual a 'Uma Linda Mulher'. Sabe aquele filme? Em que a Julia Roberts é linda, e magra?"
"E prostituta?"
Minha vez de engolir no seco.
"Eu não tenho resposta pra te dar agora, mas quando tiver", e eu disse isso com uma expressão ameaçadora, "eu te mando um e-mail".
Silêncio.
A vendedora não parecia ter se abalado, então eu decidi ir embora, antes que aquilo ficasse constrangedor. Ok. Mais constrangedor.
Ela mal havia saido do lugar quando eu voltei, tentando parecer cool.
"Me ocorreu agora que eu não tenho seu e-mail. Será que você poderia me passar?", pedi, enquanto tirava uma caneta e um pedaço de papel de dentro da bolsa.
"Anota aí: gordaescrota@gmail.com..."
Então eu parei de escrever e olhei para ela.
"Esse não é seu e-mail, né?"
"Não."
Pequeno silêncio.
"Você vai me dar seu e-mail?"
"Não."
"Hum...", soltei, enquanto pensava em alguma respostinha boa para finalizar a cena. Mas na falta de uma sacada espetacular, fiz o que me pareceu mais prudente no momento: baguncei todas as roupas dobradas sobre o balcão e saí correndo.


MY FUNNY VALENTINE, Chet Baker (que até parece bonitinho nessa foto, mas nem se enganem, meninas - ele era banguela.)
 
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