natalia

quarta-feira, 31 de março de 2010

Restrospectiva - Guia da Mente Psicótica

Peguem seus caderninhos, canetas e facas de cozinha. De hoje até sábado, vai rolar a primeira retrospectiva do blog. A cada dia, um capítulo do Guia da Mente Psicótica.


1 - O que os homens não podem, nem devem, jamais, em hipótese nenhuma, dizer a uma mulher psicótica para justificar o término de um relacionamento.

"Não é você, sou eu"

Ok. (Pausa para respiração profunda.) Vou dizer bem calmamente, porque estou de bom humor. Vai. Tomar. No cu.
Tendo esclarecido essa questão, podemos seguir em frente de maneira mais civilizada.
Já andei falando aqui sobre essa que é, sem dúvida, uma das frases mais célebres da história dos pés na bunda.
Quando você, meu bom rapaz, quiser terminar com alguém, por favor não diga que o problema não é com ela. Porque, apesar dela saber que você tem problemas (mentais, principalmente), caso contrário não a estaria dispensando, essa frase causa uma péssima impressão. Ela soa canastrona, clichê e detestável. É, de longe, a pior coisa que você pode dizer (a menos que você confesse que é adepto do bestialismo).
Além disso, eu tenho pra mim que essa frase também não é muito verdadeira. Se você não quer ficar com uma pessoa, é claro que o problema é com ela. É alguma coisa que ela tem (ou não tem) que te desmotiva a continuar. E ela sabe disso.
Aí, nessa hora, o cara tenta melhorar a situação e diz:
- Eu que não quero me envolver com ninguém. Se a Luana Piovani aparecesse aqui e me pedisse em namoro, eu diria não.
Amm... ok... eu deveria me sentir melhor agora? Porque essa informação realmente não ajuda em NADA. Como assim "se a Luana Piovani aparecesse aqui"? O que que a Luana Piovani tem a ver com isso?? E se nem ela você tá aceitando, então ferrou, né!
Taí. Essa eu queria ver. Queria ver se a Luana Piovani chegasse lá e pedisse ele em namoro. Hum. Pensando bem, acho que eu não queria não. Deixa pra lá. Idéia idiota, idéia idiota.

"Você merece coisa melhor"

Essa, apesar de também ser manjada, tende a confundir um pouco a interlocutora psicótica. Porque, ao contrário da "Não é você, sou eu", essa frase tem a vantagem de ser verdadeira. Sim, você realmente merece coisa melhor. Ele está totalmente certo. E agora?
Agora nada! Presta atenção, psicótica, você está sendo manipulada! É claro que ele é um otário vacilão que não sabe o que tá perdendo, mas cabe a você - e somente a você - decidir se quer ou não coisa melhor.
Ao rapaz, cabe ser honesto e assumir que é ele quem não quer você, em vez de ficar bancando o altruísta, te libertando de uma vida ingrata ao lado de uma pessoa aquém do merecido.
E, vamos combinar, você já é bem grandinha. Já pode votar, entrar pro exército, ir pra guerra, beber, dirigir, beber e dirigir (se não for pega pela blitz da lei seca, afinal, você também pode ser presa). Você já tem idade suficiente para saber o que merece.
Depois, quem foi que disse que você merece coisa melhor? Ele não conhece o teu passado, não sabe o teu karma. Se bobear, você merece até coisa pior. Vai que você foi Hitler em outra encarnação. Ou Stalin. Ou um mímico! De repente você merece mesmo sofrer nessa vida.
Então, amigão, se você estiver planejando dispensar uma psicótica, não diga que ela merece coisa melhor. É óbvio que ela merece coisa melhor. Dã! Ela sabe disso. Eu sei disso. Todo mundo sabe disso. Mas ela gosta de você, que há de se fazer? Se você não tem nada melhor pra dizer além disso, fique quieto. Porque redundância sim, ninguém merece.

"Os homens são diferentes das mulheres"

Quando eu tinha uns seis anos, minha mãe levou pra casa um clássico do cinema pós-moderno: "Um Tira no Jardim de Infância". Arnold Schwarzenegger e muitas criancinhas, em uma história cheia de ação, tiros e xixi na calça. Não necessariamente nessa ordem.
Aproveito esse momento sublime para fazer a citação mais incrível de todos os tempos. É a fala de um garotinho do filme, que diz (gênio, gênio): "Meninos têm pênis, meninas têm vagina".
Então, sim. Desde os seis anos, eu estou bem ciente de que os homens são diferentes das mulheres. Mas valeu por me lembrar. Vai que numa dessas eu me confundo, né?
Aqui vai a dica para as psicóticas desavisadas: quando um cara diz pra você que os homens são diferentes das mulheres, o que ele realmente quer dizer é: estou pegando outras.
Os homens adoram justificar seu comportamento promíscuo usando a premissa antiquada de que são capazes de separar sexo de sentimento. Grande coisa. Os cachorros também fazem isso. E os ornitorrincos. Cachorros e ornitorrincos ao mesmo tempo eu já não me atrevo a arriscar, mas quem sabe? Contanto que um não espere que o outro ligue no dia seguinte, tá tudo certo.
Enfim. Os homens conseguem dissociar sexo e afeto. Parabéns. Palmas pra eles. Só me responde uma coisa. E daí? Não, sério. Ser capaz de fazer uma coisa não significa que você precisa, de fato, fazer essa coisa. O cara que vende chiclete no ônibus, por exemplo, poderia estar matando, poderia estar roubando, mas não. Ele resolveu só interromper o silêncio da sua viagem e encher o saco de todo mundo. Então por que, por que o cara com quem você está saindo também precisa sair com outras? Só porque ele pode? Porque a mulher tava lá dando mole? E não havia por que dizer não?
Ora! Mas eu digo por que dizer não! Porque toda vez que ele diz sim pra outra garota, ele está automaticamente dizendo não pra você. Porque toda vez que ele sai com outra, é uma vez que ele não te escolheu. E isso diz muito mais do que "os homens são diferentes das mulheres".
Não tente ser compreensiva e achar explicações na anatomia humana. Faça-me o favor! O cara não pode dizer que gosta de você e depois sair com outras só porque meninos têm pênis e meninas têm vagina.
Caso ele use isso como argumento, confunda-o com a pergunta: "Mas e as hermafroditas?".

Nem vem que não tem!


MULHER PSICÓTICA após ouvir as três frases acima

terça-feira, 30 de março de 2010

"A maldição de aniversário" ou "Áries sim, virgem não mais"


Há alguns anos eu venho tido problemas com as minhas festas de aniversário. Mais especificamente com metade delas.
No ano passado, tive uns contratempos com o lugar que eu havia reservado. Os convidados foram chegando e nada de liberarem o espaço. Comecei a ficar nervosa e resolvi beber umas tequilinhas pra relaxar. Uma, duas, três, quatro.
Foi o suficiente para eu ficar péssima e não me lembrar de metade da festa.
Em 2008, alguém de quem eu gostava muito me deixou muito triste. Triste o bastante para que eu passasse metade da festa me debulhando em lágrimas.
Não lembro bem o que se passou em 2007. Foi uma cadeia de eventos que terminou em um atraso épico e, consequentemente, na ausência da aniversariante durante metade da sua própria festa.

Mas em 2010, a maldição do dia 27 de março quebraria recordes. Nada no mundo, nem mesmo três anos de experiências frustradas, poderia me preparar para o que estava por vir.
Apostas foram feitas. "Esse ano a Natalia vai passar metade da festa dormindo", "caindo na porrada", "dando pra alguém".
Mas não.
Na metade da festa, um dos convidados subiu ao palco, completamente bêbado, e disse "um brinde à aniversariante, eu tirei a virgindade dela", finalizou, apontando para uma psicótica petrificada.
Silêncio geral.
Em seguida, todos olharam para mim, segurando o riso.
"Não, mas peraí, gente, isso foi há muito tempo atrás", tentei explicar. "Diz pra eles que isso foi há muito tempo!", exigi, enquanto ele cambaleava para fora do palco.
Aos poucos, todos foram se dispersando, mas ainda com aquele risinho preso no canto da boca.
"Eu não sou virgem há muitos anos, tá bom, galera?", esclareci, olhando em volta pra ver se eu achava pelo menos uma testemunha.
Infelizmente, nenhum dos outros seis estava lá. Preciso dar pra mais gente, concluí, enquanto o removedor de hímens era levado até um táxi.
O assunto, contudo, ainda renderia metade da festa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eles preferem as psicóticas

Adorável Psicose é o blog da semana na Rádio SulAmérica Paradiso. Saiba mais aqui.

Se você for um leitor novo, seja bem-vindo ao mundo das mulheres psicóticas. Se você já for da casa, melhor ainda. Fique na torcida para o blog ser o favorito do mês. Se eu não ganhar, posso ficar transtornada e deus sabe o que pode acontecer.

Beijos da Psicótica.

terça-feira, 23 de março de 2010

Mó inferno astral


Dizem que durante os trinta dias que antecedem seu aniversário, você vive um inferno astral. Eu não costumo acreditar nesse tipo de coisa, a menos que sirva para me livrar de alguma situação chata, tipo, "foi mal ter batido no seu carro, mas é que eu tô no meu inferno astral" ou "desculpa não ter atravessado a cidade para ir no seu churrasco escroto, mas, sabe como é, inferno astral."
E no meio disso tudo, minha melhor amiga resolveu promover um double date e me apresentar ao melhor amigo do namorado dela.
"Você vai adorar o Beto", ela disse, fazendo campanha. "Tem tudo pra dar certo, ele é a sua cara."
"A minha cara? Por que eu iria querer sair com alguém que tem a minha cara? Eu nem gosto tanto assim de mim!"
"Ai, Natalia", reclamou, sentando-se em um dos banquinhos da cozinha. "Ele ficou todo interessado."
"Ah, é?", perguntei, sentando-me também.
"É. Ele te achou bonita, gostou dos seus textos, te achou mó astral."
"Desculpa, quê?"
"Quê?", ela tentou disfarçar.
"Que que você disse? Ele me achou o quê?"
"Sei lá, interessante", respondeu, desviando o olhar.
"Não, não, não. Você disse mó astral. Foi isso que ele disse? astral?"
"Não sei, Natalia. Ele disse várias coisas, não lembro agora."
"Sei", respondi, contraindo os olhos. "Ele é um daqueles caras que acham as coisas mó astral, não é?"
"E daí? Qual é o problema do cara achar as coisas mó astral?
"Nenhum. Ele é uma pessoa dos anos 70 que entrou numa máquina do tempo e veio parar nos dias de hoje?", perguntei.
Minha amiga se levantou do banquinho, desistindo de continuar a conversa.
"Eu já devia ter imaginado", prossegui, ignorando-a. "Quem tem o apelido Beto hoje em dia? Beto?", debochei. "Ha, aposto que o Beto é mó astral."
"Esse aqui é o Beto", ela disse, levantando o celular e mostrando a foto dele no Facebook.
"Uôu", respondi, boquiaberta.
O cara era gato pra cacete.
"Bom, mas você também não lembra direito se ele disse mó astral, né?", argumentei. "Ele pode muito bem ter dito outra coisa e você fez confusão. Você sempre faz confusão. Tremenda confusão."
"Então eu posso marcar?", ela perguntou, enquanto eu sorria.

Uns dias depois, lá estávamos. Eu, minha amiga, o namorado dela e o Beto.
A foto não fazia jus ao rapaz. Ao vivo ele era ainda mais gato.
"Mas então, Beto", eu disse, quebrando o gelo. "Eu soube que você andou falando de mim por aí."
"Só coisas boas", ele respondeu.
"Sei. Mas se você pudesse resumir essas coisas boas em duas palavras, quais seriam?"
"Como assim?", ele perguntou.
"É, Natalia, como assim?", perguntou minha amiga, visivelmente constrangida.
"Não, é porque eu fiquei bastante intrigada com um termo que você usou pra me definir."
"Que termo que eu usei?"
"Agora eu esqueci. Me ajuda a lembrar."
"Foi interessante?"
"Não, não. Foi outra coisa. Foi tipo... muito espirituosa...", dizia, tentando obter uma confissão.
"Natalia, vamos ao banheiro rapidinho?", minha amiga me intimou, já me puxando pelo braço. "O que você tá fazendo?"
"Desculpa, mas eu não posso me apegar a ele antes de descobrir se ele me acha mó astral."
"Você é louca!"
"Não, eu sou mó astral", rebati, fazendo o sinal de paz e amor.
Quando voltamos à mesa, tentei de todas as formas arrancar aquelas duas palavrinhas infelizes do Beto. Mas ele não dizia, de jeito nenhum. Descobri naquela noite que ele me achava uma porção de coisas, exceto a que eu mais esperava ouvir.
No final das contas, acabei esquecendo o assunto. Ele era muito bonito e surpreendentemente culto. Jamais sairia por aí dizendo mó astral. Minha amiga que era meio surda e disléxica. Devia ter sido o pesadelo das rodas de telefone sem fio quando era criança. "Bola", sussurrava a coleguinha ao lado - ao que ela respondia: "heeeein?".
Por isso, eu aceitei a carona do Beto até a minha casa, onde, depois de me dar um beijo bem interessante, ele se despediu dizendo:
"Gostei de você. Essa noite foi mó astral."

Quando ele me ligou no dia seguinte, eu não tive dúvidas. "Foi mal te dar um fora, mas, sabe como é, tô no meu inferno astral."

quinta-feira, 18 de março de 2010

Tipo a Marlene


"Essa é a amiga que eu te falei", dizia Juliana, "ela é super fã do seu blog."
"Demais!", completou a amiga. "Eu me identifico muito com o que você escreve."
"Ah, você também anda saindo com caras ineptos?", perguntei.
"Na verdade... não. Eu sou lésbica."
"Bom pra você, faz muito bem!", eu disse. "Eu devia ser lésbica também. Você guarda meu lugar enquanto eu penso?"
"Natalia, isso é jeito de falar?", reclamou Juliana, constrangida.
"Tudo bem", disse a amiga. "Uma mulher bonita, inteligente e divertida como você será super bem-vinda ao clube", ela disse, olhando pra mim.
"Ouviu isso, Juliana?", alfinetei, enquanto ela fingia que não estava prestando atenção. "Bom, mas então isso quer dizer que...", e tentei continuar a frase apenas rodopiando a mão e levantando as sobrancelhas, como quem diz ah, você sabe do que eu estou falando.
Mas pela cara das duas, suspeitei que meus gestos não estavam fazendo o menor sentido.
"Você me pegaria?", perguntei, toda envaidecida.
"Natalia!", repreendeu-me novamente Juliana.
"Quê?", questionei, sem entender o motivo do alarde. "Só fiz uma pergunta, sem pressão", tentei me defender. "Mas, então, você me pegaria?"
"Nah", ela respondeu, na lata.
"Nah?", perguntei, certificando-me de que tinha ouvido aquilo.
"Nah", ela repetiu.
"Desculpa, foi impressão minha ou você acabou de dizer que me achava bonita, inteligente e divertida?"
"Eu acho. Qualquer garota seria sortuda em te pegar."
"Qualquer garota, ahn?"
"Umhum."
"Mas não você."
"Não eu."
Cruzei os braços, intrigada. Não que eu tenha problemas em lidar com a rejeição. Não é isso. Eu só não admito ser rejeitada. Por ninguém. Em nenhuma circunstância.
"Posso perguntar por quê?"
Então ela suspirou, levantou as mãos e deu um estalo com a língua, como quem se prepara para dizer uma coisa que o interlocutor não vai gostar de ouvir.
"Você não faz meu tipo", ela disse, por fim.
Soltei o ar pela boca, como quem faz questão de expressar desdém.
"Ah, eu não faço seu tipo?", perguntei, em tom de deboche. "Então você está dizendo que uma mulher bonita, inteligente e divertida - suas palavras, não minhas - não faz seu tipo?", contra-ataquei. "Qual é o seu tipo então? Feias, burras e chatas?"
Silêncio.
"Vocês têm visto Big Brother?", Juliana tentou mudar de assunto.
"É a minha bunda, né? Eu sei que é."
"Não é a sua bunda, Natalia."
"Bunda reta, parece uma tábua. Mas eu tô malhando! Minha professora me garantiu que em seis meses minha bunda será outra. Então pense nessa bunda como um investimento. Uma poupança, literalmente."
"Chega, Natalia", interveio Juliana. "Qual é o seu problema? Você nem é lésbica!"
"Não agora. Mas em 2005 eu peguei umas menininhas por aí. Ou homens de cabelo de grande. Sei lá. Eu bebia muito naquela época."
Juliana revirou os olhos e cobriu o rosto, como quem, por alguma razão, está morrendo de vergonha.
"Que que é?", protestei. "Se eu for virar lésbica um dia, eu preciso saber o que me espera do outro lado. Eu achei que as mulheres fossem querer alguma coisa comigo, mas pelo visto é trocar seis por meia dúzia", concluí. "Agora, que mal lhe pergunte, quem diabos faz seu tipo?"
"Eu gosto de mulheres mais...", dizia, girando as duas mãos e contraindo os dedos.
"Com atrose?", arrisquei. "Você tem fetiche por velhas?"
"Mais poderosas", confessou. "Você é uma gracinha, mas eu gosto de mulherões."
"Mulherões tipo Marlene Mattos?"
"Tipo Marlene Dietrich."
"Entendi."
E aceitei. Não sou dessas pessoas que sentem necessidade de chamar a atenção de todo mundo, a qualquer custo. Por isso mesmo que, na semana seguinte, eu não apareci na festa da amiga lésbica da Juliana vestindo um terno preto e fumando um cigarro de maneira sensual.

terça-feira, 16 de março de 2010

Eu sou você amanhã


Dia de primeiro encontro é sempre um dia tenso. Me preparo como se estivesse indo para uma entrevista de emprego - o que, vamos combinar, não é lá muito diferente. Mesmas perguntas de sempre, aquela coleta de informações preliminares que muitas vezes só servem para ambos descobrirem que não têm nada a ver um com o outro.
E nesse contexto todo de primeiras impressões, a roupa que você escolhe exerce uma função de suma importância. Sem querer ser fútil e superficial, mas as suas roupas vão ser a primeira coisa que a outra pessoa vai assimilar a seu respeito. E, dependendo da sua escolha, não tem mais volta.
Se um cara me aparece com uma gola em V com tufos de pelos à mostra, já era. Ele vai ser pro resto da vida o date Tony Ramos.
Por isso, como eu disse, dia de primeiro encontro é um dia tenso. Eu não quero ser a garota-com-a-calça-atochada-na-bunda ou a moça-com-as-pizzas-no-sovaco. Com essas coisas não se brinca! Elas repercutem, ecoam pelas mesas de bar e pelas mensagens do Facebook. É preciso ter cuidado e pensar muito bem antes de sair por aí se enfiando em qualquer vestidinho.
Para compor o visual daquele primeiro encontro, eu havia pensado o dia todo. E, mesmo assim, ainda efetuei diversas alterações de última hora, insegura com minhas decisões. O resultado foi uma blusa branca de manguinhas levemente bufantes com uma saia rodada preta que não era nem muito curta nem super comportada, sapatilhas bicolores e um arco de lacinho.
Estava cheia de confiança enquanto aguardava uma mesa e o meu date em um dos sofás de espera do restaurante. Tudo parecia estar sob controle - e eu já começava a me preparar para a etapa de microbiografias e anedotas que costumam preencher boa parte dos primeiros encontros - quando o impensável aconteceu.
Uma garotinha, que devia ter uns cinco anos, no máximo, sentou-se ao meu lado, compondo uma das cenas mais patéticas e hilariantes que já se sucederam comigo. E olha que a lista não é pequena.
Lá estávamos, eu e ela, vestidas praticamente com a mesma roupa. Aquela garotinha adorável e esta psicótica - a duas semanas de completar 25 anos -, passando de moça estilosa a gêmea retardada em dois segundos.
"Eu sou você amanhã", sussurrei pra ela, que me olhava impressionada.
E então sorrimos em cumplicidade. Que se danem os outros, pensamos. Se eles não se comportassem direitinho, nós cruzaríamos os braços, fecharíamos a boca e nada de sobremesa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O que você faria?


Estava muito puta por alguma razão que não vou lembrar agora, mas que, possivelmente, tinha alguma coisa a ver com babaquices masculinas.
Esperava para atravessar a rua ao lado de dois caras, um deles de boné, quando uma loira gostosona passou, provocando toda a gama de expressões faciais nojentas que um homem é capaz de exibir.
"Eu com uma mulher dessa...", comentou o de boné com o amigo, que sorriu em cumplicidade.
Não pude conter minha indignação.
"Tu fazia o quê?", questionei.
"Oi?", ele perguntou, confuso.
"Tu fazia o que com uma mulher dessa?"
Os dois ficaram bastante constrangidos, especialmente o de boné. Boné ridículo.
"Como assim?", ele tentou desconversar.
"Ué, diz aí o que você faria. Fiquei curiosa."
"Ah...", começou, colocando a mão na nuca, "várias coisas...", e em seguida olhou para o amigo, buscando a cumplicidade de antes.
Só que agora o amigo virou pro outro lado.
"Pô, eu ia pegar e... cê sabe", tentou prosseguir, de maneira bem degradante.
"Não, não sei. Me explica."
"Ah, aquela coisa, não sei explicar."
Então eu sorri, desfrutando cada segundo daquele momento.
"Com uma mulher dessa tu não fazia nada, mané."
E atravessei a rua, aliviada das babaquices masculinas.

terça-feira, 9 de março de 2010

Psicose por um mundo melhor: o facebook


Não sou nenhuma expert no assunto, mas acho que tem algo de errado com essas redes sociais na internet.
O Facebook, por exemplo, deveria ter algum sistema inteligente que filtra de maneira automática as informações que você não tem interesse em receber. Tipo quando você fica sabendo que o Marcos Vinicius está em um relacionamento com a Débora Costa, sendo que o Marcos Vinicius era o cara com quem você saía há duas semanas.
Pá! Bem ali, na sua cara. E o pior de tudo, na minha opinião, não é nem o fato do Facebook comunicar que o Marcos Vinicius está num relacionamento com a Débora Costa. O mais escroto é que ele coloca um coraçãozinho do lado. É quase um recado da equipe do site, achando aquilo fofo. “Marcos Vinicius e Débora Costa estão em um relacionamento... aawwnn (mãos em forma de coração).
Não, na boa. A única coisa que o Facebook deveria dizer pra essa gente é foda-se.
Foda-se!
Ninguém
se
importa.
Sério, Marcos Vinicius e Débora Costa. Qual é o próximo passo? Divulgar no Farmville? Contar pra galera do Mafia Wars? Fazer um quiz pra descobrir quem é quem no relacionamento? Aawwnn (mãos em forma de coração).
E o que me deixa mais irritada é que o Facebook não é uma rede democrática. Porque a única opção que ele oferece para quem fica sabendo que o Marcos Vinicius está em um relacionamento com a Débora Costa é “Like”.
Se eu curti isso? Na-ah!
Cadê a opção “Don’t like”? Ou “Dislike”? Ou “Don’t fuckin’ like this shit you motha fuckin’ bitch”?
Mas sabe o que eu realmente gostaria de fazer? Eu gostaria de ser o Facebook. Só pra dizer pra todo mundo: Marcos Vinicius está em um relacionamento com Débora Costa... aawwnn (agora com os dois dedos médios levantados).

sexta-feira, 5 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher Psicótica


Aconteceu há uns dois ou três anos. Eu estava com uma amiga num restaurante a quilo e parecia um dia como outro qualquer. Peguei uns sushis e sashimis de boa aparência e fui pesar meu prato na balança, onde um simpático velhinho me entregou a comanda com o preço.
"Parabéns pelo dia de hoje", ele disse, num tom afetuoso.
Sem pensar muito no assunto, apenas julguei se tratar de uma daquelas pessoas espiritualizadas, que acreditam que todos os dias são especiais e merecem ser celebrados.
"Pro senhor também", respondi, sorrindo, enquanto levava meu prato embora.
Foi só mais tarde que, por acaso, reparei no calendário que era o dia oito de março.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Foi Carnaval - parte final


A rapidinha que virou longa ou Como chegar num cara e se constranger em público vol. I

Estava com uma amiga num bar, defendendo a possibilidade da mulher chegar num cara.
"Não estou levantando bandeiras", tentava explicar, "mas por que é sempre o homem que tem que chegar na garota? Não vejo problema nenhum em tomar a iniciativa."
"Nem eu. Mas acho que, no fundo, eles gostam dessa coisa de caçar."
"Caçar? Isso é ridículo! Nós não somos gazelas!" rebati. "E, depois, homem não dá toco. Não faz sentido, você está ali facilitando a vida dele", argumentava. "A menos que, sei lá, você esteja muito baranga. E, olha... ainda assim eu tenho minhas dúvidas."
"Ele pode estar de olho em outra."
"Pfff, faça-me o favor", debochei da observação ingênua. "95% dos homens trabalham com a lei do mínimo esforço. Os 5% restantes são broxas."
"Claro que não, Natalia."
"E quer saber de uma coisa? Vou chegar num cara agora", anunciei, olhando em volta para localizar a minha gazela.
Foi quando bati o olho no rapaz sentado sozinho no balcão, com aquele cabelinho propositadamente bagunçado e oclinhos do tipo "sou nerd, mas mando bem pra cacete".
"Oi", eu disse, ainda sem graça, depois de ter atravessado o bar me esforçando muito para parecer confiante. "Você tá aí sozinho?"
"Sim, tô."
"Então...", droga, só idiotas começam as frases com "então", "é que eu tô ali naquela mesa com uma amiga", disse, apontando para ela, que chegou a dar um tchauzinho. "Se você quiser sentar com a gente...", ótimo, agora ele vai pensar que eu estou propondo uma fanfarra a três.
"Ah, legal", ele respondeu.
"Mas sou eu que tô chamando, viu?", enfatizei. "Só eu."
E sorri, esperando que ele levantasse aquele traseiro bonitinho e voltasse comigo até à mesa, como meu troféu gazela.
"Legal", repetiu. "Mas eu queria ficar sozinho."
Pausa para efeito sonoro: fuein, fuein, fuein, fueeeinn.
"Desculpa, o que você disse?"
"Eu queria ficar sozinho."
"Naah", duvidei, dando-lhe um soquinho no ombro. "Tá de sacanagem, né?"
"Não."
"Alguém morreu?", perguntei, preocupada.
"Não."
"Você acabou de terminar com uma garota, nesse segundo?"
"Não."
"Você é gay?"
"Não! Você pode ir agora?"
"Tá, olha só. É que eu acabei de falar pra minha amiga que não tinha nada demais em chegar num cara. Aí eu vim aqui e tal... seria meio chato voltar pra lá sozinha", expliquei.
"Entendo. Mas é que eu realmente queria ficar sozinho."
"Sei. Você pode sorrir e balançar a cabeça enquanto fala isso, só pra minha amiga ali não achar que você tá me dando um toco."
"Mas eu tô te dando um toco! Eu te falei que eu quero ficar sozinho."
"Ai, lá vem você de novo com esse papo de querer ficar sozinho! Veio fazer o que nesse bar, então?"
"Beber. Sozinho."
"Sei. Veio ficar sozinho e colocou gelzinho no cabelo, né?"
"Quê?"
"Gelzinho. Tá com gelzinho no cabelo que eu tô vendo."
"Eu preciso colocar alguma coisa pra dar textura. E não é gel, é pomada."
"Ha! Você é gay!"
"Sou! Sou gay! Uhhh, homens!", respondeu, simulando uma desmunhecada. "Você vai me deixar sozinho agora?"
"Ok, maluco", disse, me virando pra sair. Mas ao ver a cara de vitoriosa da minha amiga, mudei de ideia. "Só pra deixar claro, nenhum homem faz isso, tá bom? Nenhum! Homem não dá toco!"
"Quem disse isso?"
"Todo mundo sabe. Só se eu fosse muito, muito baranga. E, mesmo assim, eu ainda tenho minhas dúvidas", desabafei.
"Eu sei, você não é baranga."
"Então qual é o problema? Por que você não quer me pegar? E nem se atreva a dizer que quer ficar sozinho!
"Quer mesmo saber?"
Fiz que sim, profusamente, e cheguei mais perto, apreensiva.
"Pra ser bem sincero, eu preferia ter chegado em você."
"Como é que é?", questionei, me afastando.
"Eu tava de olho em você, eu ia até a sua mesa, mas aí você veio e eu meio que perdi o tesão."
"Você está me dizendo que se eu não tivesse tomado a iniciativa, a gente estaria se pegando agora?"
"Humm, aí eu já não sei. Ia depender do seu papo."
Fiquei ali parada por alguns instantes, assimilando o que tinha acabado de acontecer. Depois virei para ir embora, ainda perplexa.
"Ei", ele me interrompeu. "Você se importa se eu chegar na sua amiga?"
 
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