natalia

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Crise do quarto de idade


Eu tinha ido à farmácia para comprar uma escova de dente e uma pasta. Havia esquecido o meu kit em casa e isso pode se tornar um problema para quem é obcecada por higiene bucal. É que eu tenho uma mãe dentista. Dentista e neurótica. Minha infância foi marcada por histórias medonhas sobre cáries, obturações e pessoas banguelas, o que fez de mim uma pessoa completamente condicionada.
Por isso eu fui à farmácia. Já estava com a escova e a pasta na mão quando fui abordada por uma simpática consultora de cosméticos. Ela perguntou se eu não estaria interessada em fazer uma consulta grátis para análise da minha pele. Por que não?, pensei, já me dirigindo ao local da consulta. E nisso a consultora foi pegando uma lente de aumento e um espelho. Maldita hora. Que se danem as cáries! As verdadeiras vilãs estavam bem ali, anunciando o começo de uma nova Era. "Suas linhas de expressão estão no grau dois", a consultora disse.
Grau dois? Como assim grau dois? Quando é que eu fui grau um, meu deus? Ninguém nem me avisou que eu tinha deixado de ser grau zero!
"Quando isso aconteceu?", perguntei.
"A partir dos vinte e cinco anos as linhas começam a aparecer", ela alertou. "Quantos anos você tem?"
"Treze?", arrisquei.
Não pode ser. Eu só tenho vinte e quatro anos. Eu estou sofrendo de velhice precoce!
"Quantos graus faltam?", perguntei.
"Pra quê?", ela rebateu.
"Como pra quê? Preu ficar...velha."
"Bom, a gente não coloca nesses termos... ", ela tentava disfarçar enquanto eu cruzava os braços e a encarava friamente. "Ok, mais três graus e você vira a sua avó", ela revelou, finalmente.
Não. Não, não, não. "É o protetor solar, né?", questionei. "Eu devia ter usado mais protetor solar. Minha avó sempre dizia, 'usa protetor solar, minha filha', mas eu não dei ouvidos. Eu vou comprar protetor solar, vou comprar muito protetor solar", disse, enchendo minha cestinha.
Como é que eu fiquei velha e não percebi? Eu já deveria ter feito muitas coisas antes dos vinte e cinco anos! Eu já deveria morar sozinha em vez de gastar todo meu dinheiro com roupas. Eu estou velha, cheia de rugas grau dois e ainda moro com a minha mãe!
"Suas roupas são bonitas", ela disse.
"Obrigada", respondi, chorosa. "Eu comprei em liquidação, tem outras cores também."
"Ah, é?", ela perguntou, interessada.
"É, a loja fica bem aqui na esquina", completei, me recompondo. "Mas me diz, consultora de cosméticos, minha líder, o que eu preciso fazer? O que você disser, eu faço!"
E foi assim que eu saí da farmácia com uma escova e uma pasta de dente no valor de dez reais e noventa centavos... e mais de trezentos reais em cosméticos anti-envelhecimento.

4 comentários:

  1. Credo...que medo de descobrir o meu grau!
    Mas confesso que sou meio cremilda...uso creminhos variados pra pele. Mas comecei depois dos 25 e várias rugas de expressão me diziam: "Começa antes!!"!
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Sei bem do que vc está falando...
    Virei uma psicótica com a minha pele ...
    Aff!!!
    Mas nessa altura do campeonato,tem como ser diferente?!?!?!?!?

    ResponderExcluir
  3. Tô aqui com um desses trecos na cara, me repuxando toda; será que essa meleca faz bem mesmo?...

    ResponderExcluir
  4. Larissa (larissacarvalhomarinho@gmail.com)19 de agosto de 2009 às 12:54

    isso é muito errado... um absurdo essas farmacias terem de tudo! esse tipo de estabelecimento, disfarçadamente denominado de "conveniência" deveria se especializar em vender uma coisa só... ou artigos para higiene bucal OU produto para pele! aquelas prateleiras entupidas de cremes, tinturas, remédios milagrosos para emagrecer... é tanta coisa que o cartão de crédito não suporta! outra coisa, essas "guias espirituais da estetica" que geralmente se fixam nessas (in)conveniências são pessoas do mal que querem detonar a estima dos meros mortais de vinte e poucos anos! eu aconselho comprar tudo o que essas criaturas recomendam, mas nunca na frente delas! espero sempre o final do expediente!

    ResponderExcluir

 
Designed by Thiago Gripp
Developed by Márcia Quintella
Photo by Biju Caldeira