natalia

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Leia Minhas Mãos


Se você quiser saber como anda minha vida afetiva, basta analisar o estado das minhas unhas. Não adianta checar meu status no Facebook, procurar por recados suspeitos ou pistas escondidas pelos posts deste blog. Tudo o que você precisa para saber se eu estou ou não saindo com alguém interessante é dar uma boa olhada para minhas mãos.
Quando minha vida afetiva vai bem, eu me transformo numa pessoa extremamente religiosa, que reafirma sua fé toda semana em um templo sagrado chamado Salão. A Manicure é minha pastora e nenhum esmalte me faltará. Especialmente toda a gama de tons vermelhos já produzida pela indústria dos esmaltes - se é que posso chamá-la dessa forma. Particularmente, prefiro imaginar pequenos seres coloridos trabalhando em uma fábrica mágica que proporciona beleza e polimento às unhas das mulheres. E das drag queens. E de alguns supostos heterossexuais que passam base incolor e secretamente desejam o Humberto Martins.
Uma vez por semana, eu me sento diante da minha manicure, estendo minhas mãos e clamo apenas por:"Vermelho", ao que o Oráculo pergunta: "Vermelho Inveja, Vermelho Paixão, Fogo Sensual, Amor Intenso...?" Acho que o gerente do departamento de criação de nomes deve ser uma bicha muito mala. Tipo no urologista, quando perguntado sobre a coloração da sua urina: "Dourado Festivo, doutor. Com uma camada de Caramelo Queimado."
Quando eu estou feliz, afetivamente falando, minhas unhas estão sempre grandes e pintadas de vermelho. Não sei por que, é uma coisa que eu faço inconscientemente. Um processo natural. E quando estou mais ou menos feliz, minhas unhas também ficam mais ou menos legais. Continuo frequentando a manicure, mas não com o mesmo rigor. Minhas unhas ficam sempre curtas e eu troco o vermelho por tons rosados, clarinhos.
Agora, se eu não contasse o que eu estou a ponto de contar, você provavelmente nunca seria capaz de perceber quando minha vida afetiva está uma droga. Porque quando isso acontece, eu não costumo deixar transparecer - ao menos não visualmente. Não fico desleixada, largada, descabelada. Ao contrário, geralmente meu guarda-roupa recebe novas aquisições. Muitas novas aquisições.
Quando tudo vai mal, eu tendo a apurar ainda mais meu gosto por sapatos. Viro especialista em bolsas e lingerie. Uma verdadeira connoisseur da arte de gastar metade do meu salário em roupas.

Dizem que quando você está apaixonada, você fica radiante. Deve ser por isso que inventaram a base iluminadora. Para todos os outros dias do ano, em que você se sente um lixo.
Munida de roupas novas, cachos jeitosinhos e bochechas discretamente coradas de blush, fica um pouco mais difícil perceber que a minha vida afetiva está patética.
A única falha nesse conjunto todo, o elo fraco que põe a farsa inteira em risco, são as minhas unhas. Você pode passar o olho por mim e não perceber indício algum de uma vida afetiva pouco satisfatória, exceto se dedicar alguns segundos para uma rápida análise das minhas unhas.
Se estiverem curtíssimas, com cutículas por fazer e sem esmalte nenhum, já era. O resultado será dado com 99,9% de precisão: fase ruim, sem perspectiva de melhora. Porque quando tem perspectiva, a gente ainda tenta dar um jeitinho. Mas quando não tem, chuta o balde mesmo. Eu, por exemplo, ataco os cantinhos das unhas com a mesma voracidade que os supostos heterossexuais gostariam de atacar o peitoral cabeludo de Humberto Martins.
Para mim, as unhas são válvulas de escape. A única forma que eu tenho de expressar meu descontentamento com a conjuntura do Universo. Todo o resto eu deixo muito bem camuflado.
Nunca saio de casa desarrumada. Porque a Lei de Murphy é a única lei no mundo que é invariavelmente cumprida. E eu sei que o dia em que eu sair para a rua de qualquer jeito vai ser o dia em que vou subir no primeiro ônibus que passar e encontrar todos os meus ex agarrando mulheres lindas. Ou pior, namorando mulheres lindas. Todos ali, juntos, na caravana do amor. E eu igual a uma babaca, toda de qualquer jeito. Ah, não!
Algumas mulheres param de pentear os cabelos, outras param de se depilar. Eu não. Eu só deixo de fazer as unhas - o que, vamos combinar, é dos males o menor.
É claro que, tendo feito tamanha revelação, eu começo a reconsiderar a ideia de dividi-la com o resto do mundo. Não que o mundo todo esteja lendo o meu blog, não sou tão pretensiosa assim - embora tenha visto no contador IPs de Portugal e da Espanha. Me senti super Novo Mundo na época da Expansão Marítima. Briguem por mim, me dividam em duas partes obviamente desiguais.
A partir de agora, quando a gente se encontrar, a primeira coisa que você vai fazer é reparar nas minhas unhas. Se não estiverem feitas, paciência. Eu ainda estarei arrumada, com lingerie nova e base iluminadora. E ninguém, ninguém pode sentir pena de uma mulher com uma bolsa Chanel. Ainda que seja só uma boa imitação.


MÚSICA DA SEMANA, The Calculation - Regina Spektor

25 comentários:

  1. Adorei.
    Conheci o seu blog há pouco tempo e já sou fã. Parabéns.
    Quanto ao post, bem... Eu costumo dizer que todo homem sabe de tudo,isso logo é descartado quando uma mulher pergunta, "Que cor é essa?".É incrível a Quantidade de cores existentes no universo feminino.

    Eu acho que a mulher tem que se sentir bem consigo mesma, independente de qualquer coisa, o importante é ter auto-estima.


    Beijos. =)

    http://ddcomedy.blogspot.com/

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  2. Nossa, arrasou bonito nesse post!! Amay!!!!

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  3. muito bommmmmmm!=)
    haha
    ri horrores
    e sim,as unhas são dos males o pior...;)
    http://jennypaulla.blogspot.com/

    =)

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  4. Unhas vermelhas dão um poder incrível! Eu acho que faço o inverso, quando estou mal taco um vermelhão para ver se minha moral ganha um up também. rs
    Mais um ótimo post!
    bjs

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  5. Sempre leio seus posts, mas só comento quando tenho mais ou menos o que declarar,
    então: que engraçado, eu sou exatamente o contrário... Geralmente passo do prazo na depilação, só percebo que tenho que cortar o cabelo quando sento nele sem querer e uso calçola da vovó, mas ninguém NUNCA vai me ver usando esmalte clarinho ou com a unha por fazer. Sete Pecados da Risqué está sempre nas minhas mãos.
    Um super beijo!

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  6. Muito bem observado quanto ao nome dos esmaltes! Sempre tive essa percepção de que ou gerente da fábrica de esmaltes era uma bicha mala sem alça e sem rodinha ou um macho bem caracterizado, mas louco para se perder na cabeleira peitoral do Humberto Martins...rsrsrs

    Ótemooooooooooooo post!

    http://voccenaosoubemeamar.blogspot.com

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  7. Mais um de sua belas escritas, Natália.
    E eu nunca me arrependo de vim aqui.

    =**

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  8. HAHAHAHAH!
    Loucaaaa ( com todo respeito ). Agora que vi que vc deixou um comentário lá...
    Mulher er, aquele blog eu fiz pq gosto de mexer nas coisas que estão por trás dos blogger. Essa parte de escrever eu deixo pra vc que tem todo o patamar.

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  9. Na boa: esse texto é muito a minha cara!

    Ri demais aqui.
    Incrível! Tudo por aqui é incrível!

    Beijo sem esmalte! Ahahaha

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  10. OI, sou nova por aqui, to vindo indicada pelo RADAR 55, que sou mto fã. Guria, adorei a tua escrita, vai para as amigas e para os favoritos. Bjão!

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  11. Nat, tô dissecando seu blog e nem preciso comentar a que a identificação foi imediata. hauahauhauahau. Ctz q sofro de psicose homensística.
    hauahuahauhaua Bjaun

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  12. Oi Natalia, tudo bom!? Gostei tanto do seu blog (li os arquivos todos), que escrevi uma materia para o site que eu trabalho, o Radar55 (que é de uma jornalista da Vogue chamada Juliana Mota)

    www.radar55.com, edição por aí do dia 10 de dezembro! (eu não consegui mandar o link!)

    é isso! sucesso!
    beijos

    maria clara drummond
    mariaclara@radar55.com

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  13. CA - RA - CA.
    Eu não sei se vc acaba de escrever sobre uma verdade absoluta ou se somos parecidas, apenas sei q, depois de 2 anos, eu acabei de trocar o vermelho pelo rosa claro. Eu acho que não preciso falar como esta minha vida afetiva...se é que ela existe! Muito bom teu blog!
    Beijos, Carol.

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  14. Conheci o blog hoje, atrávés do Radar 55. Que bom Clara que você resolveu compartilha-lo conosco, amei!
    Logo no post mais recente super me identifiquei, aliás, já escrevi algo parecido certa vez para um trabalho - sobre as cores dos esmaltes - mas sim, o estado E AS CORES das nossas unhas revelam nosso interior sim - pelo menos naqueles dias... e pelo menos o meu! E revela muito! Estou adorando e vou continuar minha leitura no "psicose".

    Beijos Pabéns!

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  15. Sua piada histórica mereceu cumprimentos britânicos!
    beijos sem esmalte.

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  16. Eita, só mulher aqui! Ah, não, espera, tem o Daniel lá em cima. Desculpa, Daniel.

    Beijão pra vocês todos (viu, Daniel, coloquei no masculino plural só por sua causa). Muito obrigada pela visita dos psicóticos novatos. E obrigada mais ainda pela visita dos psicóticos reincidentes.

    Espero ver vocês todos por aqui mais vezes. Fico super feliz quando ganho diagnósticos.

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  17. o que vc quiz dizer com mãos psicóticas?
    não entendo vc...
    e as fezes em que lugar ficam?
    lembra daquilo que vc tinha dito vc disse que não esqueceria e até agora sua reação de nada mostrou isso, e mais cade o sorvete que teria que descer debaixo do seu umbigo?
    disso vc lembra né!!
    xata
    xau bju

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  18. Essa eu tive q contar pra minha mãe, que fez o favor de chegar no trabalho pedindo pra todas as mulheres mostrarem as unhas, e avaliou a vida afetiva de todas elas de acordo com o esmalte, sem falar q a partir de agora ela só usa vermelho, tentando se convencer de que tah bem, rs... Como sou apaixonada por unhas AMEEI seu post... <3

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  19. nossa sou exatamente o contrário. quando estou bem faço o básico, sobrancelha, depilação e perfume, sempre. quando a coisa está feia acabo caprichando na maquiagem, com realçador de sobrancelha, máscara com partículas de ouro, sombra rejuvenecedora, blush cintilante, batom base lift, batom com partículas de ouro. quando estou muito mal pinto as unhas de vermelho e deixo crescer muito. esmalte com cheirinho de cereja. tenho muita maquiagem e esmalte de várias cores. tipo, várias. (desculpe, Natalia, não resisti...). tudo pra dar aquela levantada. às vezes dá certo. às vezes alguém até elogia...

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