natalia

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Da Série: Piores Encontros do Universo


2 - O Cara que Gostava de Correr

Sabe quando você conhece alguém e percebe, logo de cara, que as coisas vão funcionar? A conversa flui sem esforço, os dois se divertem juntos, o beijo é ótimo e todo o resto também... Mas aí não dá certo e você tem que voltar para o mercado, arrastando o sari com o rabinho entre as pernas, à procura de uma nova pessoa, sabe?
Eu sei. Não foi à toa que me auto-intitulei "Rainha dos Primeiros Encontros". Se achar um cara interessante fosse fácil como fazer compras, eu não estaria aqui escrevendo neste blog à uma da manhã.
Pra ser bem sincera, não é mole se aventurar nesse mercado. Ao contrário, é extremamente exaustivo. Toda vez que você retorna, tem sempre aquela sensação de "ai, não, tudo outra vez". Toda aquela rotina de flertar, trocar telefones, combinar de sair... E quando vocês finalmente se encontram, ainda têm que passar por aquela conversinha preliminar, contando o que fazem, onde trabalham, onde estudaram....zzzZZZzzz... Oi? Perdi alguma coisa?
Sem contar com as piadinhas. Sim, porque você quer ser divertida, engraçada, inteligente. Aaaahh! Desculpa, mas haja saco! Ninguém merece passar por isso mais de duas vezes por ano. E, mesmo assim, eu sou a "Rainha dos Primeiros Encontros". O que significa que realizo essa pequena rotina quase toda semana. É como se o barzinho se transformasse num circo dos horrores, enquanto eu fico ali fazendo meu número no picadeiro.
"Você faz o que mesmo?", pergunto.
"Sou administrador", ele responde, enquanto eu me esforço para não parecer muito entediada.
"E o que você faz normalmente?", pergunto outra vez, tentando mostrar interesse.
"Ah, deixa pra lá, meu trabalho é chato".
Graças a deus, penso. "Não, fala, eu fiquei curiosa", insisto, na esperança de que ele mantenha a decisão de não me contar.
"Então tá, depois não diz que eu não avisei... Bom, normalmente, eu fico responsável pelo setor de finanças..."
Zzzzzzzzzzz...
E enquanto ele fala, meu olhar se fixa no casal da mesa ao lado. Mais precisamente nos dedos da moça, que tamborilam impacientes sobre o vidro, provocando um som hipnótico. Olho para ela e percebo que seu olhar também está perdido. Mas quando ela me vê, eu fico desconcertada e volto a prestar atenção no que o cara em frente a mim está falando.
"... mas o que eu gosto mesmo é de correr!".
"Desculpa, correr de quem?"
"Não, correr só por correr."
"Por que alguém faria isso?"
"É ótimo, você devia experimentar".
"Eu tentei. Por um ou dois...minutos", explico. "Mas aí eu pensei: eu tô correndo pra onde, meu deus? Qual o propósito disso? Foi aí que eu parei, dei a volta e fui comer um cachorro-quente."
"Cachorro-quente?"
"É. Foi ótimo saber exatamente pra onde eu estava indo. Você devia experimentar."
Silêncio.
"Bom, eu corro todos os dias", ele insiste. "Eu corri ontem, corri hoje, amanhã eu vou correr, sábado eu vou correr... E domingo..."
"...Você vai correr...", completo.
"Não", ele responde num tom de desdém, como se eu tivesse dito alguma coisa absurda. "Domingo eu vou andar de kart."
O que caralhos eu estou fazendo aqui?, penso, enquanto me vejo repetindo o gesto da moça da mesa ao lado. Ok, eu estou aqui porque ele é extremamente gato. E dez centímetros mais alto do que eu. Dez! Concentra nisso.
"As meninas do trabalho adoraram seu blog", ele muda de assunto. Finalmente um assunto interessante.
"E você, gostou?", arrisco.
"Não", ele responde, na lata. "Achei meio mulherzinha, não é muito meu tipo de humor não."
Jura? Qual é o seu tipo de humor? Correr? Correr com uma perna só?, penso, dando uma leve entortada na boca.
"Você tem uma boquinha linda, sabia?", ele diz.
"Ah, é", pergunto, indiferente. Então leia meus lábios: não me liga NUNCA MAIS. Depois invento uma desculpa qualquer e vou embora cedo.

Após uma certa idade, as pessoas não saem mais por aí fazendo novas amizades. Elas meio que sossegam com os amigos que fizeram até então. Porque ninguém tem mais saco de ficar cativando gente, desculpa, Saint-Exupéry. A vida é muito corrida, o tempo é curto e, quando dá, nós saímos com quem já temos afinidade e nos sentimos confortáveis. Alguém com quem temos uma história, que nos conhece e que conhecemos bem.
Queria que essa lógica também se aplicasse aos relacionamentos amorosos, mas, infelizmente, não é assim que funciona. No que concerne a esse campo, é preciso, de tempos em tempos, começar tudo outra vez e conhecer gente nova.
No meu caso, como "Rainha dos Primeiros Encontros", eu ainda devo fazer isso mais algumas vezes até dar a sorte de encontrar alguém e perceber logo de cara que as coisas vão funcionar.

16 comentários:

  1. Eu também corro todos os dias! O ônibus que eu pego pro trabalho não pára no ponto. Nunca!
    :)

    Ah, eu ando tão cansada de ver coisas
    despencando ao meu redor, que tô fechada pra balanço (Seja lá o que isso realmente signifique no meu dia a dia) até o ano que vem.

    Bjo!

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  2. Ai! Já tive um "pior encontro" desse. Só que o meu era Nadadorrrr...Ui! Que horror!

    Um beijo, adorei o blog!

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  3. A-DO-REI!!
    Mas como se diz aqui nos pampas
    A luta continua companheira!!
    Não tá morto quem peleia...
    Uma hora a gente chega no segundo encontro, que pior ainda ou é a continuação de algo...(oh ansiedade); ou o fim inevitável.
    BJÃO GURIA!!!

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  4. adoreei, adorei meesmo :P
    adoro teu blog :BB

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  5. Eu também adoro correr. Sobretudo quando a vendedora da Avon aparece aqui em casa.

    Teus textos são muito, muito bons. E, claro, não tou dizendo isso só por conta da boca linda.

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  6. Corro de muitas coisas...
    E com relação a relacionamentos novos tive um complicadin com alguém que não fazia nada da vida e queria viver aqui em casa pensando que eu era igual a ela,=000.
    Chôoooo...nãaaa...
    E ainda praticava os pronomes possessivos. Dosê, néah?!
    afff...


    Blog bom esse,viu?!

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  7. Em primeiro lugar, queria dizer que foi ótimo ter descoberto seu blog hoje, porque pude matar o dia inteiro de trabalho lendo vários e vários posts. Obrigada.
    Em segundo, eu sou repórter da revista Ouse e, depois de ler tanto, gostaria muito de fazer um perfil seu para a próxima edição! Podemos conversar? Meu e-mail é anaribeiro@simbolo.com.br
    Beijos!

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  8. Natália, seu blog é de mulherzinha, claro, mas isso não o torna nem um pouco desagradável. Séculos que não parava pra ler um, séculos.

    Foi que nem aquela conversa com a pessoa certa: fluiu fácil, sem esforço. Conquistou bonito, me senti na obrigação de dizer. Beijos.

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  9. Eu devo ser a única pessoa que confere todas as dicas do Radar e voltimeia (ui! Odeio voltimeia, oititrinta, acadimia!) eu acho umas coisas boas... Acredita que eu li TODOS os seus posts? Dei muita risada! Agora vou ser sua (per)seguidora! ADOREI!

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  10. devo dizer que os segundos, terceiros, quartos sempre serão os primeiros encontros quando não há do que correr.

    ;)


    ps. muito bom o post, sem mais.

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  11. kkkkkkkkk
    Voltei!!!!
    Mas pera aí! Meio mulherzinha?!
    Se esse blog fosse mulherzinha eu num viria ler, odeio coisinhas mulherzinhas... o punk daqui é justamente pq num é assim, é ácido demais pra ser essa coisa no diminutivo, e não poupa ninguém, show!

    Bom, mas sempre desconfie dos caras sexys e ultra atletas. Às vezes o cara meia boca tem muito mais o que mostrar (interprete como queira, rs). Esse lance de ficar cativando por aí é lasca mesmo, eu desisti disso faz tempo e olhe que há quem diga que sou nova ainda...

    Mas diz uma coisa: esse cara já viveu na Etiópia? De repente ele deveria ir pra lá para ser melhor compreendido, até as praças tem forma de pista de corrida por lá...

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  12. Já tô com 60, mas ainda curto a aventura de desbravar novas figuretas humanas...
    Faz parte da aventuda o "dar zebra".
    Deu zebra?
    Corra e bote prá correr...
    Prá isso, o verbo correr continua interessante...
    BJS!

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  13. Me identifiquei muito, principalmente com o último parágrafo. Vivo dizendo isso pra uma amiga que "faz amizades novas" (e eu, como amiga "velha" e taurina morro de ciúmes!). Não que eu seja uma pessoa anti-social, nem trato mal as pessoas que não são minhas amigas, ao contrário, mas daí a se tornarem AMIGAS mesmo... Assim como daí a um carinha até então desconhecido se tornar seu namorado... vão léguas de perguntinhas e papinhos que você daria tudo pra poder pular e chegar naquele momento em que a comunicação realmente existe porque vocês se entendem como ninguém. Ainda estou na fase (pós-término) tentando enxergar uma maneira de evitar esse caminho tortuoso inicial e com implicância máxima para esses papinhos de "sua boca é linda" ou coisas do gênero. Mas no fundo acho que alguma hora vai aparecer alguém com quem esses primeiros momentos sejam tão bons e passem voando. Onde está aquele friozinho na barriga?

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